quarta-feira, fevereiro 01, 2006

A mais louca de todas as árvores

Assim se intitulava o post de ontem em Dias com Árvores, anunciando o florescer das amendoeiras no Sotavento algarvio (se quiser saber porquê, siga o link).

Enchi-me de brio e parti à procura delas, no Barlavento.
Encaminhei-me no sentido de Messines e virei à esquerda na Cumeada, percorrendo esse belo caminho que nos conduz às Cortes, de regresso à EN 124.
Há uns 20 ou mais anos atrás, com o meu pai, percorri esse caminho, carregando uma câmara de vídeo (das pesadas, à época) e, com filmagens de amendoeiras, de platibandas de casas e de rendas de birlo, ostentando flores de amendoeira estilizadas, de chaminés rendilhadas, de jardins, de muros de pedra, realizei um clip sobre a Lenda das Amendoeiras.
Emprestei-o e nunca mais o vi.

Abelha sobre flor de amendoeira, Cortes, Silves, Janeiro 2006, © António Baeta Oliveira

Hoje, esse tal clip não teria acontecido. Além desta amendoeira, de que fotografei a flor, com a respectiva abelha, guardei umas poucas mais, raras, em curvas de caminho, sobre muros caiados de branco, ou debruçadas sobre vales, outrora cobertos com a sua brancura. Envelhecidas, abandonadas, ainda com pequenas amêndoas ressequidas nos seus ramos.

Confesso a minha tristeza, apesar da beleza do caminho, ao avistá-las, assim, como que se extinguindo, levando consigo a memória de um outro Algarve que já não volta mais.

Desculpem esta minha insistência de cada vez que me refiro às amendoeiras:
          - Se ao menos as plantassem na encosta norte da alcáçova!

8 comentários:

Anónimo disse...

Que triste é o abandono! Maior pena só mesmo a morte!

Que plantem amendoeiras na encosta norte da alcáçova! (Até soa como uma microcausa ;-)

Hoje o Paulo publicou uma crónica do Drumond de Andrade intitulada "Fala amendoeira!" Do outro lado o Atlantico é em Março que as amendoeiras se "outonizam"... (deixo o link)

Abraço do NOrte e saudades do Sul.
Manuela

hfm disse...

Se...

RS disse...

:(

Torquato da Luz disse...

As amendoeiras floridas fazem parte da nossa infância - e é desta que temos saudades, Toy.
Quando me acontece não ir ao Algarve nesta altura, procuro-as aqui em Lisboa, no Parque de Monsanto, onde algumas (poucas, é pena...) também florescem todos os anos. São "amargosas", como dizemos aí, mas por momentos adoçam-me a vida.
O abraço de sempre.

Rosmaninho disse...

Também eu gostaria que tal acontecesse. Que espectáculo, nesta época do ano, as amendoeiras nos proporcionariam, na encosta do castelo!


Já agora faço esta pergunta: As palmeiras, tantas, por que será?
Agora, mais umas a rodear a Cruz de Portugal...

Anónimo disse...

Moro na Rua das Amendoeiras.

Há uns anos não havia casas à volta, a terra eras das amendoeiras.
Hoje, o único terreno não urbanizado que resta tem 4 amendoeiras, e em breve irão ser arrancadas.

O nome da minha rua será como uma vaga lembrança do que era.

Der@ disse...

Não nos devemos preocupar damasiado... em vez de amendoeiras, quem sabe, num futuro breve teremos plataformas de petróleo e ilhas tropicais no horizonte (não consegui mesmo evitar uma certa ironia).

Anónimo disse...

Seremos um dia uma espécie que nem dará conta de que existem flores e árvores, seres tão abstractos então, como é hoje um cabrito aos pulos para muitos habitantes de Lisboa ou de Nova Iorque, que nem uma galinha ao vivo viram. Uma lástima.