quarta-feira, agosto 09, 2006

Silves Medieval

Li, há cerca de um mês atrás, de Alberto Xavier, o romance Al-Gharb 1146, editado pela Bertrand. Não apreciei particularmente.

Em vésperas de uma longa Feira Medieval, a estender-se de 10 a 15 deste mês, resolvi trazer-vos um pequeno excerto de um dos textos desse romance, em que Silves aparece referida em contexto medieval.
Imagem do cartaz promocional do evento, © Câmara Municipal de Silves


  • (...) dirigimo-nos para nascente, onde, já fora das muralhas da medina, ficava a judiaria. Cavalgando um pouco mais, deixando para trás o intrincado das ruas estreitas do bairro judeu e a sua branca sinagoga, chegamos a casa de Ben e Judite, uma construção (na mesma) em1 pedra ruiva, o grés, de linhas sóbrias e elegantes, rodeada de jardins e pomares. De características vincadamente andaluzas, a casa tinha, porém, uma particularidade arquitectónica: um amplo terraço sobranceiro ao rio, suportado por colunas com capitéis tipicamente árabes, em que as volutas das clássicas folhas de acanto eram substituídas por um reticulado complexo e abstracto.
    Entramos para o grande pátio central de onde se acede aos salões e, por um portão de ferro forjado, aos jardins. A toda a volta do pátio, os lambris são revestidos de azulejos de cores exuberantes, assim como os bancos de alvenaria dispostos a espaços regulares, intercalados por grandes talhas de barro e potes de vidrado policromo transbordantes de cachos de gerânios vermelhos e brancos; no centro, dois leões de mármore jorram das bocas escancaradas repuxos de água rumorejante para um tanque rectangular. (...)

    Avisadamente, Ben enviara um mensageiro dias antes, de modo que os criados tudo tinham a postos para receber os seus senhores e os ilustres convidados. O jantar foi-nos servido no terraço, ao fim da tarde, enquanto o Sol descia para os lados do mar, distante umas dezenas de quilómetros. Excelente o borrego bem temperado e assado no forno, acompanhado de beringelas recheadas, excelentes os doces de amêndoa típicos de Silves que fizeram as delícias de todos, em especial da nossa querida Ordoña.
    O silêncio caía entre nós, talvez tomados pelo cansaço da viagem e pelas emoções do dia (..), talvez pela beleza serena daquele lugar privilegiado onde nos encontrávamos, já fora do burburinho da cidade fervilhante de vida e animação, da azáfama do porto e dos estaleiros navais, mas não tão longe que não pudéssemos usufruir da sua vista.
    E o recorte de Silves ao lusco-fusco era deveras imponente com a sua dupla cintura de muralhas e as onze torres de planta rectangular, ainda as duas torres albarrãs ligadas às muralhas por arcos de volta perfeita. No alto do cerro, sobrepondo-se a toda a malha urbana, o famoso Axarajibe - o Palácio das Varandas! (...)


1. No texto original está escrito "na mesma", porque há uma referência anterior ao grés, a pedra ruiva de Silves. Substituí aquelas duas palavras por "em", neste contexto de uma transcrição parcial.

3 comentários:

Carla disse...

Visitei a feira o ano passado :)
Adorei!!!!!
Este ano nao sei se consigo ir :(
Beijos

Rosmaninho disse...

E... o recorte de Silves, século XXI, continua a encantar-me...

É um privilégio... nesta cidade ter nascido e viver!

Um beijo

Carla disse...

Que o sol seja o sorriso a dançar no teu rosto.
Bom fim de semana
Beijos