segunda-feira, janeiro 01, 2007

Não há Ano Novo, nem novos anos

  • COMEÇA HOJE O ANO

    Nada começa: tudo continua.
    Onde 'stamos, que vemos só passar?
    O dia muda, lento, no amplo ar;
    Múrmura, em sombras, flui a água nua.

    Vêm de longe,
    Só nosso vê-las teve começar.
    Em cadeias do tempo e do lugar,
    É abismo o começo e ausência.

    Nenhum ano começa. É Eternidade!
    Agora, sempre, a mesma eterna Idade,
    Precipício de Deus sobre o momento.

    Na curva do amplo céu o dia esfria,
    A água corre mais múrmura e sombria
    E é tudo o mesmo: e verbo o pensamento.


Fernando Pessoa
in Poemário
Assírio & Alvim, Lisboa 2006

Com um abraço ao meu amigo António Guerreiro, que mo ofereceu e a que dei o uso que me sugeriu.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Amigo António Baeta.

Com um poema muito frio, mas essencialmente oportuno.

Afinal não existe passagem de ano? Tudo é uma linha infinita? Tudo o resto foi graduado pelo detentores do poder económico, político e social.

Mas não foram capazes e limitar o poder criativo que cada um de nós pode ter em baralhar os tempos e refazer a contagem.

Já agora um espectacular ano (entendido como a distância de dias que vai entre o aqui e o nosso pequeno planeta dar uma volta completa em torno do sol).

Um abraço
AG

Asulado disse...

Eh pá, ó Fernando, isso é uma chatice!
Então que desculpa é que vamos arranjar para fazer saltar as rolhas do espumante e encher a boca de passas?

gato xara disse...

calendários, anos, números, meses, ... será que o homem precisa mesmo disto tudo?
em todo o caso, feliz ano novo, em todos os calendários!
abraços

Unknown disse...

De facto não há anos novos, mas ainda bem que sabemos do devir das estações e da relatividade deste nosso mundo.
Um abraço, amigos.

Anónimo disse...

Ainda bem que está de regresso... vem sem ano novo, nem novos anos... (Pessoa, Pessoa, ou em qual dos seus heterónimos?). E sobre o Natal, o que encontrou? Não nos contou... Sempre nos trouxe Esperança?