Viagem
Há olhos que só olham o sonho; e, quando
o sonho se dissipa, ficam cegos.
Há pontes por onde não se passa, no inverno,
embora ninguém as guarde: pontes
sem arcos, abstractas como um arco-íris
e frias como a chuva da madrugada.
Um campo de erva que amadurece;
o feitiço fútil dos faróis quando a manhã
limpa as últimas névoas;
um bater de pálpebras como asas:
imagens que lembro
e me restituem os olhos
com que avisto a entrada da cidade.Nuno Júdice
Poesia Reunida (1967-2000)
Um canto na espessura do tempo (1992)
Publicações Dom Quixote, Lisboa 2000
quarta-feira, julho 06, 2005
Um bater de pálpebras como asas
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1 comentário:
Tão bom ler Júdice.Sempre tão bom. Mesmo quando os olhos estão cegos.
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