À esquerda, na foto, é possível identificar a fábrica Vilarinho & Sobrinho, uma das maiores unidades industriais do país à data do seu encerramento, em 1915.
Cumprem-se hoje 72 anos sobre o dia em que Silves acordou, em sobressalto, com o levantamento dos seus operários corticeiros, em luta contra a intromissão do Estado nos seus sindicatos de classe, na sequência da chegada de Salazar ao poder.
Aqui presto homenagem a todos os lutadores dessa jornada, nomeadamente a Abatino da Luz, António Estrela, António Teodoro, Joaquim dos Santos Caetano, Manuel Pessanha, Manuel Simão e Virgílio Barroso, silvenses condenados a 10, 11 e 12 anos de prisão.
Fátima Patriarca, em Sindicatos contra Salazar - A revolta de 18 de Janeiro de 1934, publicado em 2000 pela Imprensa de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, dedica 35 páginas do seu trabalho aos acontecimentos de Silves, onde descreve uma greve generalizada, "...de cerca de 1000 operários...", que ainda se mantém activa, apesar de rigorosa vigilância policial, no dia 20 de Janeiro. A 25 de Janeiro, "... 23 empresários corticeiros chamam a atenção do Ministro do Interior... " e observam que "... as «ordens» do ministro, transmitidas pelo administrador do concelho, «originaram o encerramento de todas as fábricas por serem considerados incursos na lei contra a greve todos os operários desta cidade»".
Toda esta dolorosa situação durou 21 dias.
Conseguem imaginar cerca de 1000 operários de Silves e suas famílias sem auferir qualquer rendimento ao longo de 21 dias?
Sobre este período da história de Silves, além do livro que cito, acima, remeto-vos para um link que já aqui utilizei, num post anterior, de 24 de Novembro de 2004, sob o título A cidade corticeira, e que aqui volto a colocar ao serviço dos interessados - Da Alvorada do Século ao Estado Novo - de João Madeira, Mestre em História do séc. XX. Deste mesmo autor pode ainda encontrar o texto Os Corticeiros de Silves e o Movimento Social, no Catálogo do Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês.
9 comentários:
Obrigado por este enriquecimento que proporciona, em termos do conhecimento dos que nos antecederam, criando espaço e raízes para a liberdade, ainda tão mal amada...
Bem haja igualmente pela visita ao meu blog e ao simpático e justo comentário acerca da Janica,essa mulher notável e discreta que extrai ouro da sombra.
Abraço
Luís Filipe Maçarico
Olá Toy
Bem hajas por teres dedicado o teu Blog de hoje à data do 18 de Janeiro e aos nossos saudosos amigos, designadamente o António Estrela e o Joaquim Caetano.
Estou a recordá-los com um nó na garganta.
Um abraço. Zé
Também eu, que acabo de chegar duma sessão comemorativa do 18.Janeiro.34, que teve lugar na Marinha Grande, agradeco-te teres lembrado a luta destes trabalhadores que lutavam com a força das suas convicções arriscando tudo e em troca buscavam essencialmente respeito pela sua dignidade.
Um abraço.
Edmundo Estrela
Para quando em Silves um monumento (ou um livro com patrocínio local)evocativo dessa data memorável - e dos seus heróicos protagonistas -na luta pela liberdade que hoje gozamos?
Partilho da ideia de que estas histórias de Silves e do Algarve estão ainda por fazer no quadro da história regional do Algarve. Sem essa memória não há futuro. Bem que a Câmara poderia encomendar uma investigação sobre o movimento sindical corticeiro no sul do país.
Um abraço do Helder.
Naquele tempo, parece-me, as pessoas lutavam mais para defender os seus direitos, as suas convicções, a sua liberdade... Não consigo imaginar, nos nossos dias, operários e famílias sem terem meios para subsistirem, ao longo de 21 dias... Aqueles 1000 operários, pela sua luta, pela sua força, por tudo o que representam deveriam ser recordados, em festa comemorativa, todos os anos neste dia. Penso que principalmente as gerações mais novas desconhecem
estes acontecimentos, mea culpa também. A partir de agora começarei a falar do 18 de Janeiro 1934 em Silves, aos mais pequenos. Obrigada Toy
Brilhante.
Abração daqui de longe.
Mais uma jóia.
Obrigado.
Um abraço,
RS
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