Mia Couto, na Revista Mais, editada em Maputo, colocou três questões aos seus leitores. Vou transcrever a terceira questão (via versão portuguesa do Courrier Internacional), não porque as outras duas sejam menos importantes, mas porque não pretendo transcrever todo o artigo:
(...)
A terceira questão é uma pergunta: o leitor sabe o que é o «dumping»? Pois eu não sabia. Aprendi o conceito quando seguia a intervenção da malawiana Irene Banda na referida reunião (da Organização Mundial do Comércio) em Hong Kong. Pois o «dumping» consiste na fixação de preços abaixo dos custos de produção para liquidar a competição. Isso está sendo feito, por exemplo, para o algodão. Os produtores de algodão de África enfrentam esta gigantesca imoralidade. Vamos ver como.
Com uma primeira ressalva: ao falar de algodão não nos referimos a um produto. Falamos, sim, de 20 milhões de africanos que dependem da sua produção. Não é, como se pode ver, um assunto para economistas. O algodão é um bom exemplo de como as distorções comerciais e o tal «dumping» falsearam as normas do relacionamento entre os países.
Os reflexos dessa injustiça mostram como podemos entender a chamada «ajuda» dos chamados «doadores». Em cinco anos, 25 mil produtores dos Estados Unidos, receberam 9,8 mil milhões de euros em subsídios. Ao mesmo tempo, devido a uma descida brutal dos preços internacionais do produto, mais de 10 milhões de agricultores africanos sofreram uma dramática queda de rendimentos. Em 2001, a ajuda financeira dos EUA ao Mali foi de 31 milhões de euros. O país perdeu por causa dessa política proteccionista cerca de 35,4 milhões de euros.
(...)
A conclusão pode ser apenas esta. Nós, pobres do Terceiro Mundo, pedimos aos ricos o seguinte: não nos dêem mais. Basta que não nos tirem mais.
Mia Couto
Action Aid
A Nigéria tem uma dívida internacional de 30 mil milhões de dólares. Os países ricos decidiram cancelar 18 mil milhões de dólares dessa dívida, caso a Nigéria pague os restantes 12 mil milhões. Desse dinheiro, o governo britânico iria receber 3 mil milhões de dólares, um valor que é duas vezes superior à totalidade do apoio que o Reino Unido concede, ao longo de um ano, a toda a África.
3 comentários:
Não é o primeiro africano a pedir para deixarem de dar dinheiro a África... Mas nem o Bob Geldof percebe isto. Ou talvez perceba bem de mais.
É demasiado triste...
(Como cidadão europeu, o que fiz questão de mencionar, enviei o e-mail a Gordon Brown - Obrigado, Baeta.)
Ouvi ontem que a Dinamarca perdoou a dívida aos países africanos. Segundo a notícia, sem condições nem necessidade de mais negociações ou acordos entre países credores.
Obrigada, António, por teres colocado aqui este artigo.
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