sexta-feira, janeiro 20, 2006

Preservar a memória


Poço-Cisterna de Silves, em Arte Islâmica


A AEDPHCCS (Associação de Estudos e Defesa do Património Histórico-Cultural do Concelho de Silves), acaba de divulgar o seu último Boletim - O Mirante.
De entre os textos publicados resolvi efectuar uma resenha sumariada das referências à preocupante destruição do património histórico local, de importância nacional e mesmo internacional, assinadas por João Vasco Reis.

  • Povoação muçulmana da Portela de Messines
    - sítio arqueológico identificado por Estácio da Veiga no séc. XIX, de uma época que se estima entre os sécs. X e XII, um aglomerado populacional de grandes dimensões, não fortificado, e por onde passava uma importante estrada islâmica em direcção a Silves. Destruída pela Brisa quando da construção da A2 (Auto-Estrada do Sul).
  • Estrada romana às portas de Silves
    - restos de uma tradicional calçada romana, utilizada durante séculos, referida no Livro do Almoxarifado de Silves, do séc. XV, como caminho público que saía da ponte e seguia por S. Pedro em direcção a Estômbar. "Salvaguardada" sobre milhões de metros cúbicos de terra, na sequência da construção do novo acesso da EN 124 à Via do Infante.
  • Povoado islâmico do Morgado de Arge
    - alcaria, ocupada entre os sécs. VIII ou IX e XIII. Descoberta quando da construção da IC4 à via do Infante, a arqueologia revelou uma casa agrícola, com habitação, armazém, pátio e celeiros compostos por vários silos, além de muita cerâmica, utensílios de tecelagem e, curiosamente, uma enorme quantidade de restos de bivalves. Foram ainda identificadas escórias de fundição de minério e diversos instrumentos pré-históricos, a revelar um local habitado anteriormente à época muçulmana. Ao que tudo indica, a casa agrícola seria só uma das pontas de um povoado islâmico. Parte da alcaria não terá sido destruída, ficando protegida sob a terra.
  • Estação arqueológica da época romana, na Vila Fria
    - villa romana, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1997, um dos mais importantes sítios arqueológicos do período romano no concelho de Silves, parcialmente destruída pelas obras de um campo de golfe do Grupo Pestana, em plena zona da Reserva Agrícola Nacional. A infracção foi detectada pelo IPA (Instituto Português de Arqueologia).
  • Bairro islâmico do séc. XII
    - bairro islâmico do séc. XII (ou XIII), revelado na sequência das obras de construção de um bloco de apartamentos, junto à Fábrica do Inglês. Descoberta de importância sem precedentes, nomeadamente pela área, maior que um campo de futebol, sendo a área de dispersão dos vestígios à superfície de cerca de 1800 m2, ocupando as estruturas construídas cerca de metade desta área. As ruínas, de um extenso conjunto habitacional muçulmano do arrabalde medieval da cidade, revelam casas cujas bases de parede são de arenito e calcário, apresentam pavimentos lajeados, muito bem conservados. É surpreendente o espólio que tem sido posto a descoberto, uma infinidade de cerâmica de uso doméstico, vidrada, artefactos ligados à tecelagem. Foi também identificada uma área de características industriais, com estruturas de um forno de cozer cerâmica, um poço ou nora e tanque. Trata-se de um achado único, com habitações completas, infra-estruturas industriais, hidráulicas e viárias. Único, de facto, em Portugal, como afirma o historiador João Vasco Reis, que assina o artigo. As escavações arqueológicas exigidas pelo IPA prosseguem, com vista a permitir a sua conservação, mas apenas por registo, em desenho e fotografia. As obras da construção do bloco de apartamentos avançarão então, pois não há qualquer impedimento legal, destruindo o bairro.

Assim, não se preserva a memória.
Os atentados são tantos e de tal calibre que nos arriscamos a ficar indiferentes, pelo hábito e pela impotência.

6 comentários:

RS disse...

É. IPPARece que ninguém se chateia... São só calhaus
(os iluminados do IPPAR, claro).

No Porto é o mesmo...

João Soares disse...

Ola,
Conheço muito bem a oliviera milenar.Vi-a este Verão,pois fiz um roteiro especial pelas árvores monumentais do Algarve.
Conheço muito bem Silves.Bela e antiga terra,tb.
Por um Algarve mais natural...é BEM URGENTE!!!
Um abraço do Norte
Joao
BioTerra
(http://bioterra.blogspot.com)

Rosmaninho disse...

É verdade! Assim, não se preserva a memória. Mais atentados virão a seguir, não tenho dúvidas. Achados únicos dão lugar a auto-estradas, a campos de golfe, a desenhos, a fotografias... e o pior de tudo é que a indiferença, parece, já se ter instalado. Chama-se a isto progresso?!

Manuel Ramos disse...

Faltou talvez ouvir a voz da AEDPHCCS quando tudo isto se passou, não é?

Carla disse...

Olá,
passei para ver as novidades e deixar votos de um bom fim de semana.
Jinhos

Carla disse...

Deixo votos de uma boa semana.
Bjx