quarta-feira, janeiro 28, 2009

A 9ª de Shostakovich comentada por Bernstein

Pátio das Letras, na Rua Doutor Cândido Guerreiro, 30, em Faro

No passado fim-de-semana, pela tarde, desloquei-me a Faro, mais precisamente ao Pátio das Letras (edifício na foto acima), para uma audição da sinfonia citada em título, comentada por Bernstein e apresentada ao vivo pelo Maestro João Miguel Cunha.

A tarde foi de tal maneira prazenteira e instrutiva que me apetece partilhar um pouco desse meu desfruto.

No final da Guerra (1945), Stalin terá encomendado a Shostakovich, à época o mais famoso e influente maestro do mundo, uma sinfonia, que viria a ser a 9ª de Shostakovich, para comemorar a vitória da União Soviética e seus aliados.
Esperava-se uma 9ª sinfonia à Beethoven: portentosa, triunfal. Acontece que o maestro tinha outros planos e a sinfonia que compôs foi de tal modo desagradável aos ouvidos de Stalin, que Shostakovich se viu remetido para um total esquecimento durante muito tempo.
É das intenções de contestação de Shostakovich e do seu entendimento pessoal sobre o que era a sinfonia que desejava compor, que se debruça Bernstein nos seus comentários.
Marcou-me particularmente uma situação em que os trombones se agigantam a toda a orquestra, portentosos como se esperava de uma sinfonia de vitória e, ao bater do som de um prato de percussão, os fagotes se remetem para uma melodia reservada, intimista, muito ao estilo da 9ª de Mahler, como o maestro refere.
Como diz Bernstein, Shostakovich apresenta, contra todas as expectativas, uma obra sinfónica breve, espirituosa e circense, a terminar como num can-can de Offenbach, contestando com o seu humor o ditador soviético.

É esse apontamento que podeis seguir no vídeo abaixo.



Como me agradou tanto o que vi e ouvi, tentei encontrar esses vídeos no youtube e, se vos consegui despertar a curiosidade, aqui tendes uma lista que podeis utilizar a belo prazer e cobre completamente a 9ª Sinfonia de Shostakovitch e os comentários de Bernstein:

4 comentários:

luís ene disse...

antónio, pois é, tu rulas. já fiz copy & paste.

hfm disse...

Bem, António, agora é que foi pior vou deixar de ter tempo para escrever ou pintar. Vou ouvir e vou buscar mais informação. Adoro Shostakovitch; ainda outro dia numa palestra nos Amigos dos Castelos ouvi António Vitorino de Almeida falar muito dele.

Obrigada. Um abraço.

Fatma disse...

Ainda ontem estive a ouvir Shostakovitch :) - os quartetos de cordas (cds oferecidos por um amigo tempos atrás e só ontem posto no leitor de cds....). Bjinhs grandes e saudades.
P.s. Um especial de parabéns.

JD disse...

Schostakovich é talvez o maior compositor do século XX, e deve-o, ainda que muito ao seu génio, à definição clara de estéticas soviéticas e realistas. Caso tivesse vivido noutro país, não teríamos concerteza a sua magnífica obra, mas seria mais um de muitos "experimentalistas atonais" ou "serialistas integrais", cuja música é insuportável mais de dois minutos seguidos.

Devemos ao povo Russo, a Lenine e a Estaline a grande música de Schostakovich, a grande música do século XX.

Apesar de estar muito na moda "descobrir" alegada contestação ao regime na música deste compositor, a realidade é que tudo são hipóteses de interpretação de simbolismos sonoros. A realidade é, aliás, que Shostakovich sempre apoiou a política soviética e nunca se mudou para o Ocidente - apesar das oportunidades que teve para o fazer -, como tantos outros músicos, nem quis mudar.

E que interessante é a sua 9ª sinfonia. Não comemora a vitória na guerra, mas reflecte sobre a guerra, porque as guerras não se comemoram.

Abraço,

João Delgado