segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Tudo, ali, é simples e complexo

Serralves, Dezembro 2004, © António Baeta Oliveira
  • SUL

    Tudo, ali, é simples e complexo: a luz,
    a solidão, o olhar que se comove com o cair
    da noite e com o nascer do dia; e, até,
    os risos de mulheres que se ouvem desde longe,
    trazidos pelo ar cuja transparência se sente
    na própria respiração. No entanto, debruço-me
    da varanda e dou por que algo se oculta,
    para além dos muros e dos quintais, e chama
    por mim sem que eu possa responder. Então,
    volto para dentro; preparo o café; e
    enquanto a água ferve o mistério desaparece,
    inútil e excessivo, no início da tarde.


Nuno Júdice
As regras da perspectiva, 1990
Poesia Reunida (1967-2000)
Publicações D. Quixote, Lisboa 2000

2 comentários:

hfm disse...

Gostei de ler.

Softy Susana disse...

nunca me canso de Nuno Júdice. É mesmo fenomenal...