Alienação
O constrangimento era absolutamente insuportável.
Não era senhor das suas próprias ideias. Nem a mais vulgar das decisões lhe era permitida. Até o simples acto de se deslocar era cometido de momento a momento. O guarda-roupa, dos sapatos ao casaco ou blusão, nem sequer lhe era proposto escolher. Roupa interior, nem vê-la. Podia frequentar um café ou um bar, ir ao cinema, ao ginásio, ao teatro, à ópera, a um concerto. Vibrar no futebol, numa corrida de cavalos, num combate de boxe. Confrontar-se com o perigo de um tiroteio de rua, do assalto a um banco. Passear pelo jardim ou exercitar-se na alameda. Visitar um museu ou uma galeria de arte. Trabalhar. Viajar. Nunca lhe competiria a menor das decisões.
Até o falar! Ainda por cima com palavras que não eram as suas.
Falava por balões.
Não tinha como desistir. Não havia como deixar de ser personagem de banda desenhada.
P.S.
A 6 de Agosto, para não esquecer
HIROSHIMA
4 comentários:
Tb tu não tens como desistir... entre outras coisas ficas obrigado a escrever contos para nosso prazer!
Que belo achado, teu conto.
Abração.
Também eu me senti assim, "sem a menor das decisões".
Este, já saiu, venha o proximo.
Excelente, amigo.
Absolutamente fantástico!
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