Outro enriquecimento da minha viagem a Xauen, nomeadamente durante a estadia em Sevilha, foi o do contacto com publicações de poesia e literatura árabe clássicas. Acedi desta forma a poetas e poemas que antecederam no tempo os andalusinos que aqui venho divulgando.
Jamil Butayna, do final do séc. VII, depois da transferência do califado Omíada para Damasco, é um dos mais notáveis representantes da poesia amorosa -'udri-, caracteristicamente dedicada a uma só mulher, cujo nome os poetas faziam figurar junto ao seu.
Butayna é, assim, o alvo da poesia de Jamil, quando canta:
Amigos:
Alguma vez vistes um morto chorar de amor
pelo seu assassino
como o choro eu?
'Umar Ibn Abi Rabi'a, falecido na segunda década do séc. VIII, cultivava uma poesia amorosa erótica e urbana - ibahi - liberta já da poesia 'udri, dos pares enamorados e de uma visão mítica da mulher.
Não me atrevo a traduzir este poema, mais elaborado, por isso o mantenho em castelhano:
Desnuda un día por el calor, preguntó a sus vecinas:
Me veis como él me ve o exagera acaso?
Y riéndose entre si le contestaron:
la persona amada a todos los ojos parece bella.
Por celos hablaron.
Tan vieja como el hombre es la envidia.
Notas do (apostador):
- andalusino(a) é um vocábulo usado pelo arabista Adalberto Alves quando se pretende referir aos naturais da Península ao tempo do al-Andalus. Usa-o para que se não confunda com andaluz(a), atribuído aos naturais da actual Andaluzia.
- 'udri, quer dizer casta;
- ibahi, refere-se a sensual.
1 comentário:
Apesar de um pouco desfasada no tempo continuo a leitura destes posts.
Abraço
Sara
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