Dando continuação a esta mostra de líricos algarvios, deixo-vos hoje com João Brás (Silves).
- Evocação de Silves
Além, alta colina entre colinas
Vede que longo e que pesado sono!
Silves mourisca, à sombra das ruínas
Dorme, velhinha e triste, ao abandono...
Perto, o Arade passa murmurando
Não sei que estranhas e profundas mágoas
Quem sabe se a saudade está chorando
Ou se fala d'amor a voz das águas!
Canta nos laranjais o rouxinol
Pela estrada fora riem as moçoilas
E nas searas, sob a luz do Sol
É um mar de sangue o rubro das papoilas.
Em Fevereiro, quando o luar branquinho
Vem, muito frio, brincar pelos valados
As amendoeiras são lençóis de linho
Em leitos de quimeras, a esp'rar noivados.
E ao Sol posto, pelas tardes quietas
À hora calma das Avé-Marias
Até os próprios sinos são poetas
Que nos cantam inéditas poesias.
Do passado distante cuja história
Para sempre ficou escrita em grés
Cada pedra é um símbolo de glória
Que parece dizer: Era uma vez...
E levitam-se espectros a rondar
Lá nas altas ameias das muralhas
São moiras encantadas a chorar
P'lo seus amores mortos nas batalhas.
P.S.
1. - 18 de Janeiro é uma data histórica em Silves. Se quiser aprofundar esse conhecimento pode aceder a "Da Alvorada do século ao Estado Novo" (basta clicar)
2. - Reafirmo o interesse na V. colaboração nos "Líricos algarvios", disponibilizando o meu endereço - Local & Blogal (basta clicar) - e informo que já recebi participações, a publicar em breve.
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