terça-feira, janeiro 18, 2005

Líricos algarvios (III)

Dando continuação a esta mostra de líricos algarvios, deixo-vos hoje com João Brás (Silves).

      • Evocação de Silves

        Além, alta colina entre colinas
        Vede que longo e que pesado sono!
        Silves mourisca, à sombra das ruínas
        Dorme, velhinha e triste, ao abandono...

        Perto, o Arade passa murmurando
        Não sei que estranhas e profundas mágoas
        Quem sabe se a saudade está chorando
        Ou se fala d'amor a voz das águas!

        Canta nos laranjais o rouxinol
        Pela estrada fora riem as moçoilas
        E nas searas, sob a luz do Sol
        É um mar de sangue o rubro das papoilas.

        Em Fevereiro, quando o luar branquinho
        Vem, muito frio, brincar pelos valados
        As amendoeiras são lençóis de linho
        Em leitos de quimeras, a esp'rar noivados.

        E ao Sol posto, pelas tardes quietas
        À hora calma das Avé-Marias
        Até os próprios sinos são poetas
        Que nos cantam inéditas poesias.

        Do passado distante cuja história
        Para sempre ficou escrita em grés
        Cada pedra é um símbolo de glória
        Que parece dizer: Era uma vez...

        E levitam-se espectros a rondar
        Lá nas altas ameias das muralhas
        São moiras encantadas a chorar
        P'lo seus amores mortos nas batalhas.

P.S.

1. - 18 de Janeiro é uma data histórica em Silves. Se quiser aprofundar esse conhecimento pode aceder a "Da Alvorada do século ao Estado Novo" (basta clicar)

2. - Reafirmo o interesse na V. colaboração nos "Líricos algarvios", disponibilizando o meu endereço - Local & Blogal (basta clicar) - e informo que já recebi participações, a publicar em breve.


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