Estou a ler O Cavaleiro da Águia, de Fernando Campos. Trata-se de um romance histórico sobre Gonçalo Mendes da Maia e, como diz o autor, «... não esquecendo os graves problemas que hoje se levantam entre o mundo cristão e o mundo árabe, quis dar um sentido universal à (minha) visão dos dissídios entre os homens. E, na sociedade peninsular dos séculos XI e XII, a par dos horrores da guerra entre Cristãos e Árabes, entre cristãos e cristãos e entre árabes e árabes, há exemplos de compreensão e humanidade, de harmonia, alianças, casamentos com geração. (...)».
É claro que num romance histórico sobre esta época, em território que é hoje Portugal, é quase inevitável referir-se Silves ou alguns dos seus mais ilustres filhos.
Quero deixar-vos um belo extracto, a propósito de um banquete de despedida que Al-Mu'tamid, rei de Sevilha, teria oferecido a García, rei da Galiza, que ali se havia refugiado na sequência dos litígios entre os herdeiros de Fernando Magno. Gonçalo Mendes da Maia, que com os seus cavaleiros se tinha deslocado a Sevilha para acompanhar o Rei García de volta à Galiza, ficara sentado ao lado de Buthayna, filha do rei anfitrião, nascida em Silves:
"(...) E o coração de Gonçalo palpita mais depressa, de trote, entra em galope desenfreado. Não é o diadema de fina renda de pedras preciosas, é a noite do cabelo a cair em cachos rolados sobre os ombros macios; não é o brilhante na testa de ouro, é o poço dos olhos; não são os brincos de diamantes, mas o recorte, o acetinado da orelha; não é o colar de pérolas, antes o torneado do colo; não é o alfinete de prata a fechar o decote, mas sim o leite entrevisto do busto; e os braços roliços e as mãos esguias e a ânfora do corpo e o perfume a sândalo que dela exala..."
Fernando Campos
O Cavaleiro da Águia
DIFEL, Algés, Maio de 2005
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