Ressaca
Conhece aquela sensação de que se tem uma cabeça enorme; como na ressaca de uma noite em que se bebeu demais? - perguntou-me.
É isso. Isso e a batida ritmada, a ressoar, ao longe. E o meu corpo a reagir, a acompanhar aquele beat, feito função vital do meu próprio ser.
Os movimentos lentos, como se flutuasse num meio aquático.
E uma inquietação, uma carência permanente de qualquer coisa indefinível. Por vezes, também, uma embriaguez que percorre o corpo, como um caldo morno, apaziguando os sentidos, relaxando.
Ainda sem assumir consciência deste universo comecei a sofrer, a espaços cada vez mais insistentes, uma acção que me era exterior. Como que o efeito de um vómito no estômago. Dolorosamente a esmagar, a contorcer, a empurrar, a expelir.
Subitamente um ligeiro alívio, interrompido por uma forte dor no peito, a rebentar, e uma luz, muito clara e violentamente intensa, no meu olhar.
Sabe. Aquelas chapadas para recobrar os sentidos?
Aplicaram-me uma no rabo.
Ouvi então uma voz grave, calma, bem audível, dirigida a alguém na minha frente, que me soou a algo totalmente incompreensível.
Contou-me minha mãe, mais tarde, que essa voz lhe teria dito:
- «Parabéns! Tem aqui um belo e robusto rapaz».
sexta-feira, maio 06, 2005
Um Conto (IV)
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3 comentários:
Gostei muito. Temos contista!
Mais um, António, para quando o livro?
Abraço
Muito bem! Parabéns!!!
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