Nuno Júdice regressa ao Local & Blogal como já sucedeu várias vezes (visite a compilação ao fundo da página), quase sempre quando aquilo que dele leio condiz com o que me alegra e me rejubila, ou com o que me atormenta, me inquieta e me incomoda, enfim, com o meu "estado de alma", seja lá isso o que for.
- Poema
Escrevo na linha dupla das estações:
o outono, o inverno; e ainda
a primavera, ou o verão - quando
o azul cai, ao fim da tarde,
ou não chega a nascer
das grandes névoas matinais.
Sei que, no fundo do poema,
um sentimento se arrasta;
e coincide com o tempo
que o inspirou, com esse lodo
de emoções que se juntou
na alma, submergindo na sua
monotonia o impulso divino.
Não perco tempo a ver
as árvores, os arbustos que se
enchem de flor com o primeiro
sol, ou as pedras molhadas como
dorsos de antigos animais. Volto
para mim próprio como quem
regressa de viagem; e não
estava à minha espera,
intruso, visita
indesejável na minha vida.
Nuno Júdice
Meditação sobre Ruínas (1994)
Poesia Reunida (1967-2000)
Publicações Dom Quixote, Lisboa 2000
5 comentários:
Tive a oportunidade de o ouvir ler alguns dos seus poemas à pouco tempo, perto de Albufeira, num desigando encontro de poetas. Não estiveste lá. pois não?
um abraço
luis n
Ler um poeta já me consome tanto; ouvir vários seria demasiada confusão para a minha cabeça.
Nesta questão aprecio coisas mais tranquilas e menos chiques. Pelo que senti no tom da tua pergunta, também preferes maior "tranquilidade", não é!? :-)
Belo encontro hoje, aqui, com Nuno Júdice. Fizeste-me lembrar que o devo reler. Um abraço
gosto muito da poesia de ´Nuno Júdice, os poemas são muito belos.
beijo.
E o Nuno Júdice lá ganhou mais um prémio: o Fernando Namora. Abraço do Helder.
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