quarta-feira, setembro 14, 2005

Uma Revista dedicada a Silves e seu Património

Sé de Silves, Agosto de 2005, © António Baeta Olveira

No Dia da Cidade, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, ocorreu o lançamento do último número da revista Monumentos, uma publicação semestral da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, na sua maior parte dedicada a Silves.

Um dos artigos da citada revista, assinado por Fernando Pessoa, arquitecto paisagista, refere-se a «Silves e a sua paisagem».
Na sequência do meu post anterior, dedicado à Serra, ocorreu-me trazer-vos algumas transcrições do referido artigo, pela sua importância e já que não será fácil ter acesso a esse documento.

O autor começa por afirmar: "Falar da paisagem envolvente de Silves não é, infelizmente, tão agradável como poderia ser se a sua qualidade ambiental fosse outra".
Descreve então Silves com algumas referências à sua história, à sua situação geográfica, à sua geologia e à natureza diversificada do seu concelho, «do litoral ao barrocal e até à serra».
Prossegue, referindo a flora e a degradação a que foi sendo sujeita a cobertura florestal, aceleradamente a partir do século XX com as campanhas do trigo do Estado Novo: «O abandono das terras declivosas, face às magras colheitas de cereal, deixou as encostas entregues à erosão, e apenas a esteva acabou por se fixar nos solos pedregosos e quase estéreis. Por fim, nas últimas décadas, foram as campanhas do eucalipto que completaram a desolação».
Depois, os fogos florestais.
Discorre em seguida sobre alguns produtos da serra, nomeadamente o gado e o mel e regista algumas várzeas cultivadas. «A ribeira de Odelouca é um dos cursos de água que atravessa a paisagem da envolvente de Silves e que apresenta ainda uma galeria ripícola bem conservada, nomeadamente com grupos de amieiros, representando um dos melhores trechos de património natural do Algarve».
Descreve mais algumas zonas, a que se refere como «...relíquias de flora indígena...». Propõe passeios a pé, à descoberta da natureza, pela Sapeira e vale da ribeira de Odelouca, pela «água calma dos pegos» e ainda pela ribeira de Benafátima. Refere então as barragens, do Arade e do Funcho, a irregularidade do regime de chuvas e o seu baixo armazenamento, e a pobre, desordenada e monótona paisagem envolvente, «... com base em eucaliptais de tipo industrial.»
Segue-se uma nota às décadas de fundos comunitários desperdiçados e desce ao vale do Arade e aos seus extensos laranjais, para afirmar: «Pomares e hortas ainda vicejam, mas se não se implantar uma política coerente de gestão global dos recursos hídricos é mais um sector da economia agrícola que fica seriamente ameaçado e, com ele, toda uma bela paisagem com séculos de existência».
Então o rio, a partir de Portimão, onde: «... os meandros acentuam-se, deixando ilhotas de sapal e margens de sapais altos, onde as garças, patos reais e muitas outras aves aquáticas nidificam ou ali encontram refúgio e alimento. Muitos trechos marginais mantêm um relativo bom estado de conservação».
Quase a terminar, lastima: «Hoje, ao subir-se o rio Arade, e à medida que nos aproximamos da cidade, a poluição e o cheiro retiram o prazer da viagem, e a água apresenta o mau aspecto dum rio de qualquer país onde os cuidados com a saúde pública sejam neglicenciados. O apregoado Projecto de Navegabilidade do Rio Arade talvez venha a ter como consequência positiva a solução destes problemas, até mesmo o do péssimo aspecto urbanístico que a cidade apresenta na sua urbanização marginal, sobretudo para quem chega de barco, e que contrasta negativamente com a formosura da encosta da cidade antiga».
Conclui: «A possibilidade [de poder «cantar a paisagem de Silves como o faziam os antigos senhores que dela fizeram capital sumptuosa...»] existe, assim venham também a existir a consciência ambiental e a capacidade cultural de quem terá que decidir o futuro da paisagem envolvente de Silves».

P.S.
1. A propósito do meu post anterior vai daqui um grande abraço ao João, de Asul.
2. Ainda um abraço a outro João, o Scotex, pela referência elogiosa.
3. Amanhã, sexta-feira, haverá um novo conto, o 13º.

2 comentários:

musalia disse...

olá António:) descobri o teu blog e nem preciso dizer-te como fiquei encantada! cresci no Algarve, em Monchique e estou ligada por laços maternos e paternos a Alvor e Montes de Alvor.
vi as fotografias de Silves e...parabéns!
vi, igualmente que tens uma bibliografia de poetas luso-árabes, como conhecedor, não sabes de nenhum que tenha cantado Alvor? :)

beijos, voltarei, aliás, vou linkar-te!
ah! irei comprar essa revista Monumentos, tenho vários números e esse interessa-me muito.

Marco António I. Santos disse...

Temos que aplaudir a DGEMN pelo excelente lançamento do último numero da Monumentos. Já adquiri a revista mas ainda não tive tempo de dar uma leitura a sério.