Quando o dia se fez noite.
Quando a noite se fez dia.
Vivia intensamente aquela situação. Como se o mundo estivesse ao contrário. Como se o meu ciclo de vida, por qualquer razão que me escapava, se tivesse invertido.
As praças, os jardins, as ruas, as lojas, os bancos, os edifícios públicos, os cafés, os restaurantes, cheios de gente. As pessoas apresentavam uma vitalidade e uma alegria de viver algo perturbadoras. Inquietava-me a presença da luz das velas, dos candeeiros eléctricos, das outras fontes de luz improvisadas e, no céu escuro daquela noite, a lua, em quarto crescente. Era como se todos se tivessem erguido das suas camas e saído para a rua, em plena noite, numa loucura colectiva que me estonteava, pela surpresa, e me acalmava pela paz que se fazia sentir, difusa entre a multidão. Era uma experiência única; nenhuma das noites que antes vivera se assemelhava àquela.
Em dado momento iniciou-se uma lenta debandada. Impelidas por qualquer força exterior ou interior, como num mimetismo colectivo, as pessoas começaram a abandonar os restaurantes, os cafés, os edifícios públicos, os bancos, as lojas, as ruas, os jardins, as praças, e a encaminhar-se, como sonâmbulos, em direcção às suas casas.
Assim procedi também.
Já só, num quarto de hotel, com a luz do sol a invadir o habitáculo, fui surpreendido pela decoração algo exótica do local.
Mergulhei no travesseiro. Sonhei que estava em Marraquexe, pelo Ramadão.
quinta-feira, outubro 06, 2005
Um Conto (XV)
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3 comentários:
Gosto da fluência da tua escrita. Um abraço
Bem :)
Gostei......O conto tem cheiro a especiarias...
Ontem 6 passei pelo espaço aparte, mas as portas estavam encerradas..Hoje infelizmente já estou em Lisboa. Fica para a próxima...Têm horário ?
Cumps
Vitah
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