Dou por terminada hoje esta série de posts dedicados aos "Líricos algarvios"; de forma despretensiosa, não exaustiva, com a mera intenção de recordar e divulgar alguns vultos da poesia do Algarve, muitas vezes esquecidos na poeira das estantes e do tempo.
O meu obrigado aos que colaboraram, aos que comentaram e aos que os leram.
O poema que aqui coloco hoje é, de certa forma, uma retribuição a quem publicou um extenso trabalho - Subsídios para a História da Poesia do Algarve (Sécs. XI-XX), numa edição de «Voz de Silves» e «Gazeta de Lagoa», 2000 - Manuel Neto dos Santos (Alcantarilha - Silves):
Este meu sangue é mouro e tem contornos
Das dunas, modeladas pelo vento,
Dos teus beijos dos quais eu estou sedento,
Do teu corpo despido, sem adornos.
O meu sangue tem sonhos velhos, mornos,
Porque fiz da ilusão o paramento
Que se foi transformando neste unguento.
Foi com a areia e o choro que fiz os fornos...
Dos trigais do passado eu ceifo o trigo.
Cozo o meu pão e o Alcorão bendigo
Quando ao cair da tarde escondo o rosto.
Beijando os grãos de areia modelados
Por estes lábios meus, fiéis, cansados
Do sentir este sangue cor de mosto.
Manuel Neto dos Santos
Atalaia
Câmara Municipal de Silves, 1989