- COMOVEM-ME
Comovem-me ainda os dias que se levantam
no deserto das nossas vidas.
Dos belos palácios da saudade
não resta a impressão dos dedos nas colunas
fendidas, e nada cresce nos pátios.
Muito além, depois das casas, o último
marinheiro continua sentado.
Os seus cabelos são brancos, pouco a pouco.
Aqui, tudo se resume a algumas tâmaras que
secaram ao sol,
longe do orvalho,
das fontes que pareciam nascer de um olhar
turvo sobre a sede da terra.
Comovem-me ainda as palavras que dizias
aos meus ouvidos aprisionados pela música.
Comovem-me as cadeiras vazias, no pátio.
Lembro-me sempre de ti.
José Agostinho Baptista
Esta voz é quase o vento
Assírio & Alvim, Lisboa 2004
2 comentários:
Comoveu-me o poema por muito me dizer cá na alma, ou muito dizer da minha alma. Coincidências. Não conheço, vou procurar para ler. Obrigada pela partilha.
Abraço,
fsm.
Partilhar é o meu motivo. "Dou de barato", como dizem no Brasil.
Um abraço, Fernanda.
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