terça-feira, maio 23, 2006

Grande Prémio de Poesia

A Associação Portuguesa de Escritores acabou de atribuir o Grande Prémio de Poesia a


José Agostinho Baptista

  • COMOVEM-ME

    Comovem-me ainda os dias que se levantam
    no deserto das nossas vidas.

    Dos belos palácios da saudade
    não resta a impressão dos dedos nas colunas
    fendidas, e nada cresce nos pátios.

    Muito além, depois das casas, o último
    marinheiro continua sentado.
    Os seus cabelos são brancos, pouco a pouco.

    Aqui, tudo se resume a algumas tâmaras que
    secaram ao sol,
    longe do orvalho,
    das fontes que pareciam nascer de um olhar
    turvo sobre a sede da terra.

    Comovem-me ainda as palavras que dizias
    aos meus ouvidos aprisionados pela música.
    Comovem-me as cadeiras vazias, no pátio.

    Lembro-me sempre de ti.

José Agostinho Baptista
Esta voz é quase o vento
Assírio & Alvim, Lisboa 2004

2 comentários:

Anónimo disse...

Comoveu-me o poema por muito me dizer cá na alma, ou muito dizer da minha alma. Coincidências. Não conheço, vou procurar para ler. Obrigada pela partilha.
Abraço,
fsm.

Unknown disse...

Partilhar é o meu motivo. "Dou de barato", como dizem no Brasil.
Um abraço, Fernanda.