Anexa à Igreja Matriz de Alcantarilha há uma capela, que abre para o exterior, e que apresenta o seu interior completamente forrado a ossos humanos.
A Capela dos Ossos.
Além de Évora, o caso mais conhecido, há ainda capelas de tipo semelhante em Faro e Lagos.
Esta de Alcantarilha remonta ao séc. XVI.
É Imóvel de Interesse Público por Decreto nº 251/70, DG 129, de 3 de Junho de 1970.
A imagem do Senhor na Cruz é também do séc. XVI.
Pormenor de um dos suportes laterais do altar.
Num dos episódios anteriores, precisamente o quinto episódio, fiz referência expressa a este local, relembrando a designação que lhe era atribuída (carneira) e certa circunstância do seu uso como "depósito" dos piões a que se arrancava a segurelha.
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A Igreja da Misericórdia de Alcantarilha é também um templo do séc. XVI.
Sirvo-me da descrição do Ministério da Cultura para me referir às características deste edifício:
"Igreja construída em 1586, conforme inscrição na fachada, durante o reinado de Filipe II de Espanha (I de Portugal). Templo de arquitetura religiosa quinhentista com a nave única de dois tramos e cobertura em masseira. A capela-mor, pouco profunda e com cobertura em abóbada de berço, enquadra um retábulo barroco, em madeira policromada, dominado pela imagem da Rainha Santa Isabel. Ainda no seu interior, encontram-se alinhadas, as lanternas das procissões juntamente com as bandeiras da Irmandade. Na fachada principal, encontra-se uma porta secundária, que dá acesso às antigas dependências da Santa Casa, onde terá funcionado o hospital da Misericórdia, chamado a Casa dos Pobres."
Este é um "link" para o texto acima (com imagens).
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Não tenho memórias específicas associadas a este local, embora bem perto, à esquerda, do outro lado dessa rua que ainda se avista na fotografia, houvesse um armazém ao qual associo duas memórias distintas do seu uso.
Uma primeira está relacionada com os medos do além e do desconhecido.
Costumávamos sentar-nos, nas noites quentes de verão, à porta do armazém, já cheio de milho, a secar, contando histórias.
O milho a acomodar-se, por efeito da gravidade, produzia pequenos ruídos, como que de suspiros ou respiração profunda, ou assim o imaginávamos por força de uma história que costumávamos contar, para assustar algum amigo novo que ainda não a conhecesse e se viesse juntar ao grupo.
Dizia-se que o dono do armazém, já falecido, o Sr. Inácio, continuava a aparecer à sua mulher durante a noite, no sono, e tocava-lhe. Ela responderia, dizendo:
- " 'tá quet Naice!"
Isto traduz-se, a partir do falar algarvio, por "Está quieto, Inácio!" e deveria ser dito pelo contador com um tom cavo e profundo, que, associado aos ruídos das fatanas (regionalismo algarvio, que se refere ao invólucro do milho), inquietaria qualquer um.
Eu próprio, quando me cabia a vez de contar a história, sentia sempre um arrepiozinho frio pela coluna acima.
A segunda memória é a de uma peça de teatro que o meu pai encenou e os ensaios e representações tiveram lugar neste mesmo armazém.
Creio que na estreia, com algumas coisas ainda mal afinadas, o meu pai estaria aflito com a demora para iniciar e pediu-me que subisse ao palco com o meu irmão Zé e lhe fizesse perguntas sobre os reis e rainhas de Portugal, coisa que o meu irmão conhecia na perfeição, por via de uma coleção de cromos. Eu deveria ter os meus 7 anos e o Zé andaria pelos 4.
Abriu o pano, connosco em palco, sentados em duas cadeiras opostas, mas enviesadas para permitir aos espetadores ver-nos a expressão facial.
Perguntava eu. - " Zé, com quem casou o rei Afonso Henriques? (por exemplo) e ele lá respondia acertadamente.
Eu, também miúdo, pretendia ver se ele falhava e arrisquei em determinada altura uma que me parecia difícil, já que o rei que vou referir tinha casado várias vezes.
- E o rei D. Manuel?
E ele logo todo expedito. Qual deles, o 1º ou o 2º? O primeiro, Zé, reforcei eu. Ah! Esse casou com esta, e aquela e aqueloutra e ria-se.
E não conseguia enganá-lo. Até que me ocorreu perguntar-lhe pelo Cardeal D. Henrique, pois era padre e não poderia casar, mas o Zé naquela idade ainda não entenderia isso, pois ele tinha a sua memória estritamente associada aos lugares dos cromos nas páginas da caderneta.
Ele rebuscava a memória, contorcia-se, avermelhava e soprava, até que desistiu e exclamou, pondo a plateia em pé, a aplaudir, em gargalhadas sonoras:
- "Com essa é que me 'charingaste'!"
Procurei saber do significado desta palavra, que me parecia ter conotações maliciosas.
O que de mais próximo encontrei foi "seringar", que o dicionário traduz por:
1. Injetar o líquido contido numa seringa em
2. Molhar com o líquido da seringa
3. [Figurado] Maçar, importunar
Procurei saber do significado desta palavra, que me parecia ter conotações maliciosas.
O que de mais próximo encontrei foi "seringar", que o dicionário traduz por:
1. Injetar o líquido contido numa seringa em
2. Molhar com o líquido da seringa
3. [Figurado] Maçar, importunar
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A Igreja da Senhora do Carmo.
Também me irei servir da informação do Ministério da Cultura para a caracterização deste edifício:
"Templo que se demarca pela simplicidade da sua arquitetura. Terá existido anexado, um antigo cemitério, depois do da Igreja Matriz ter sido encerrado. O interior, na continuidade das suas linhas sóbrias, ganha vida e cor pela forma como foi decorada a capela-mor. Os motivos são simples e repetidos com elementos vegetais, criando uma dinâmica visual muito própria. No retábulo principal, destaca-se a imagem de Nossa Senhora do Carmo, com o menino nos braços, da segunda metade do séc. XVIII. Atualmente funciona como capela mortuária."
Este é um "link" para o texto acima (com imagens).
Da Senhora do Carmo não tenho memória associada, a não ser por via da sua festa anual, no segundo domingo de Setembro, e da tômbola, no largo que é hoje o do General Humberto Delgado, no topo da rua onde está a Igreja do Carmo.
(Tem continuação)
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