terça-feira, março 23, 2004

Fátima Mernissi (II)

Continuo com a publicação do discurso de Fátima Mernissi, iniciado no post de ontem. É possível aceder ao texto original no site da Fundación Príncipe de Asturias.

        (...)
        1.1.1.- Prova disso é que, se forem consultar um dicionário de francês ou inglês comprovarão que a palavra monção é de origem árabe e vem de mawassim (estações).


        1.1.2.- Uma segunda prova é a de que Sindbad representava toda uma civilização de viajantes-comunicadores e que a islamização da Malásia, Indonésia e parte da China não foi conseguida com exércitos, mas fundamentalmente graças aos mercadores sufis que falavam da sua nova religião; uma religião onde os estrangeiros eram os melhores aliados, um Islão Sufi que se resume nos três postais que vos foram distribuídos:
        Postal nº 1 - Versículo 34 da Sura 41: Responde à agressividade com bondade.
        Postal nº 2 - Ibn 'Arabi: O olho é como um espelho: o espelho é único, mas no olho do que observa as imagens são múltiplas.
        Postal nº 3 - Ibn 'Arabi: A minha religião é o amor, o que significa que se o chefe me diz que o Islão é a violência, é porque está falando de outra religião que não da minha.


    2.- Mas, cuidado! Não identifiquem imediatamente o cowboy com a civilização americana e Sindbad com a árabe, pois do que quero falar aqui é do modelo de estrangeiro: quem possui esse poder incrível de controlar o nosso imaginário, forçando-nos a identificar o estrangeiro como um ser maléfico (cowboy) ou bondoso (modelo Sindbad)? Quero sugerir a hipótese de que o nosso modelo de estrangeiro nos é imposto pelos interesses da elite que controla o Estado e a sua máquina burocrática; porque se Sindbad emergiu como um herói na Bagdad do século IX, e mais concretamente no reinado do califa Harun Ar-Rachid, é porque naquele momento o Estado era ainda incipiente e a elite dirigente podia acumular riquezas e poder, apoiando-se num Islão que na sua essência era uma estratégia de comunicação.


    3.- (...)

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