O avanço de Afonso VI de Castela, em direcção ao Sul, faz com que Al-Mu'tamid, rei de Sevilha, solicite apoio a Ibn Tashfin, senhor dos almorávidas, tribo que vinda do Sara se tinha fixado em Marraquexe. Os almorávidas invadem o Al-Ândalus, numa onda avassaladora de purificação de costumes e em 1091 tomam Sevilha, destronando Al-Mu'tamid, a quem conduzem em cativeiro para Aghmat, pequena localidade perto de Marraquexe. Al-Mu'tamid acabará por falecer naquele lugar, a 14 de Outubro de 1095, e ali foi enterrado num túmulo, ao lado da sua amada esposa, 'Itimad.
Ainda hoje o seu mausoléu, em Aghmat, é local de peregrinação.
É desse seu período de cativeiro o poema que hoje divulgo:
CHOREI quando vi passar
livre, sobre mim voando,
o bando de cortiçóis.
nem grades nem grilhetas os detinham.
não foi por inveja que fiquei chorando...
apenas nostalgia de ser livre,
sem sentir dispersas
as próprias entranhas
e sem filhos mortos
que ao pranto me obrigassem.
felizes aves:
nunca se apartaram do bando,
não sentem a ausência da família,
nem passam a noite,
como eu, de coração inquieto
ao ranger da porta da cela
ou ao chiar do ferrolho.
tais sobressaltos não são apenas meus,
fazem parte da humana condição.
desejo vivamente só a morte.
outro, quem sabe, se sujeitaria
à vida com grilhetas, mas eu não!
Alá, proteja os cortiçóis
e também as suas crias
pois às minhas, desventuradamente,
abandonaram-nas água e sombra.
Al-Mu'tamid, Poeta do Destino
Assírio & Alvim, Lisboa, 1996
2 comentários:
Belíssimo!
Ja sabes Tó...Eu sou um fã.
Um abraco da Noruega
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