quarta-feira, março 31, 2004

Referência a novos links

Hoje, fim de mês, como quem encerra as contas, quero dizer-vos que recuperei, da minha coluna da direita, reservada aos links, (A) Formiga de Langton, que dormitava nos Blogs... de Homenagem; repu-la nos Blogs... de leitura diária.
Aos Blogs... do Algarve acrescentei Contrasenso, onde Helder Raimundo divulga "blogalmente" as suas crónicas publicadas no jornal "A Voz de Loulé": sumários e acessórios.
Aos Blogs... de leitura diária acrescentei ainda Fora do Mundo, onde Pedro Lomba, Pedro Mexia e Francisco José Viegas se propõem escrever sobre... "... tudo o que faz o nosso mundo, aqueles que amamos, os nossos livros, os nossos medos."

terça-feira, março 30, 2004

O cativeiro de Al-Mu'tamid

O avanço de Afonso VI de Castela, em direcção ao Sul, faz com que Al-Mu'tamid, rei de Sevilha, solicite apoio a Ibn Tashfin, senhor dos almorávidas, tribo que vinda do Sara se tinha fixado em Marraquexe. Os almorávidas invadem o Al-Ândalus, numa onda avassaladora de purificação de costumes e em 1091 tomam Sevilha, destronando Al-Mu'tamid, a quem conduzem em cativeiro para Aghmat, pequena localidade perto de Marraquexe. Al-Mu'tamid acabará por falecer naquele lugar, a 14 de Outubro de 1095, e ali foi enterrado num túmulo, ao lado da sua amada esposa, 'Itimad.
Ainda hoje o seu mausoléu, em Aghmat, é local de peregrinação.
É desse seu período de cativeiro o poema que hoje divulgo:


  • CHOREI quando vi passar
    livre, sobre mim voando,
    o bando de cortiçóis.
    nem grades nem grilhetas os detinham.
    não foi por inveja que fiquei chorando...
    apenas nostalgia de ser livre,
    sem sentir dispersas
    as próprias entranhas
    e sem filhos mortos
    que ao pranto me obrigassem.
    felizes aves:
    nunca se apartaram do bando,
    não sentem a ausência da família,
    nem passam a noite,
    como eu, de coração inquieto
    ao ranger da porta da cela
    ou ao chiar do ferrolho.
    tais sobressaltos não são apenas meus,
    fazem parte da humana condição.
    desejo vivamente só a morte.
    outro, quem sabe, se sujeitaria
    à vida com grilhetas, mas eu não!
    Alá, proteja os cortiçóis
    e também as suas crias
    pois às minhas, desventuradamente,
    abandonaram-nas água e sombra.


ALVES, Adalberto
Al-Mu'tamid, Poeta do Destino
Assírio & Alvim, Lisboa, 1996

segunda-feira, março 29, 2004

Alinhamento de planetas


Assim esteve ontem, pelas 20h50, o céu de Silves: Mercúrio, Vénus, Marte, a Lua como que afastando Saturno do alinhamento, e Júpiter. Mercúrio deixou de se ver algum tempo depois.
Esta situação prolongar-se-á por algum tempo, mas deixará muito em breve de ser visível a olho nu, devido à luz do sol, que desde o equinócio afirma, com insistente vontade, a sua intenção de permanecer connosco mais tempo, diminuindo o período nocturno, prolongando o dia, até ao próximo solstício. Ontem, a alteração horária, avançando uma hora ao relógio, vincou aquela afirmação solar.
A imagem foi obtida a partir de Skyviewcafe.com e eu avistei aquela situação a partir do pátio interior do Edifício RACAL, pouco antes de entrar em cena para mais uma representação de AMADO MONSTRO, que se interrompe, para regressar nos próximos dias 1, 2 e 3 de Abril.

P.S. Sinceramente! Tinha escrito este post antes das 20h50 para que, quando chegasse a casa, o publicasse e não perdesse tempo a deitar-me. O tempo chuvoso, tempestuoso e inevitavelmenete nublado, ocultando os astros, alterou-me os planos, obrigando-me a pedir desculpa pelo que veio a tornar-se uma mentira, agora corrigida com este post scriptum. É, no entanto, importante que refira que já antes tinha avistado, a olho nu, este alinhamento dos planetas, se bem que com a Lua noutra posição.

quinta-feira, março 25, 2004

AMADO MONSTRO


Este cartaz vem justificar qualquer ausência, mais ou menos prolongada, que possa vir a ocorrer por estes próximos dias. A personagem começa a tomar conta de mim e, que eu saiba, não tem uma relação próxima ou sequer amigável com a informática, se bem que aprecie o mundo das letras e da música.

Se passardes por Silves, por acaso ou propositadamente, fica aqui o alerta, e não se esqueçam de reservar os vossos lugares junto do telemóvel nº 91 724 08 68.

Afirma António Guerreiro, responsável por esta encenação:

    - Quem imagina que é? Já se viu alguma vez ao espelho? Pensa que é tão forte, inteligente e belo como a sua mãe lhe fez crer?
    Estamos constantemente reflectidos no espelho das virtudes ou das velhacarias e assumimos uma visão mais ou menos idealista da importância da nossa presença neste mundo. Nesta encenação transformamos o espectador em cada uma das personagens, reforçando a sua monstruosidade, através da construção de uma óptica de espelho invertido.

quarta-feira, março 24, 2004

Fátima Mernissi (III)

Concluo a publicação do discurso de Fátima Mernissi:


    (...)
    3.- Mas um século mais tarde, sob a mesma dinastia Abássida que continuava a reinar em Bagdad, surge um califa cowboy: Al-Mu'tadid, que declarou guerra a Sindbad, proibiu aos muçulmanos o acesso aos especialistas que ensinavam a arte do diálogo e censurou os livros que explicavam as técnicas da comunicação. Porquê? Porque o nosso califa cowboy tinha à sua disposição um formidável Estado, com uma burocracia imperial elaborada pelos conselheiros persas. Os califas árabes, que provinham da tradição nómada e ignoravam tudo sobre o Estado centralizado, tinham encontrado nos persas os campeões da engenharia e da burocracia imperial. Al-Mu'tadid, o nosso califa cowboy, dispunha de uma estrutura policial reforçada por espiões para vigiar a população de Bagdad e de uma temível força militar para vencer os estrangeiros. Vamos ler juntos a declaração de guerra a Sindbad, feita pelo califa cowboy, para compreender uma coisa que é muito importante para um planeta condenado à globalização: o desejo de aterrorizar os estrangeiros nunca é um desejo do povo, mas sim das mafias que fabricam as armas e as confiam a espiões e a polícias:

    "Durante esse ano de 279 da Hégira (século X do calendário cristão) decretou-se (nudia) nas ruas de Bagdad por ordem do Sultão do Islão (sultan al-musslimin) Al-Mu'tadid, que a partir desse momento ficaria proibido aos contadores públicos (quççaç), porta-vozes das seitas (turuqyia) e astrólogos, apregoar nas ruas ou falar nas mesquitas e aos livreiros, vender livros de retórica (kalam), filosofia (falsafa) e de Jadal (técnicas do diálogo)".
    Fonte: o historiador Ibn Katir no seu livro O princípio e o fim (Al bidaya wa nihaya), volume II, ano 279. Ibn Katir nasceu em 774 da Hégira (século XIV).

    Conclusão:
    É possível imaginar uma globalização com Sindbad como modelo, onde o papel do Estado seria o de facilitar aos cidadãos o conhecimento das técnicas de comunicação e a arte da navegação e da viagem; porque Sindbad, como já disse, é o contrário do emigrante - regressa sempre a Bagdad. Mas, onde estará o dinheiro necessário para ensinar as técnicas de comunicação aos cidadãos? Bastaria usar o dinheiro que os cowboys utilizam para fabricar as armas e equipar os espiões, polícias e soldados, nas instituições que ensinam a arte do diálogo? Quem perderia com esta diversa utilização do dinheiro? Seguramente que não os cidadãos.


Fundación Príncipe de Asturias.

terça-feira, março 23, 2004

Fátima Mernissi (II)

Continuo com a publicação do discurso de Fátima Mernissi, iniciado no post de ontem. É possível aceder ao texto original no site da Fundación Príncipe de Asturias.

        (...)
        1.1.1.- Prova disso é que, se forem consultar um dicionário de francês ou inglês comprovarão que a palavra monção é de origem árabe e vem de mawassim (estações).


        1.1.2.- Uma segunda prova é a de que Sindbad representava toda uma civilização de viajantes-comunicadores e que a islamização da Malásia, Indonésia e parte da China não foi conseguida com exércitos, mas fundamentalmente graças aos mercadores sufis que falavam da sua nova religião; uma religião onde os estrangeiros eram os melhores aliados, um Islão Sufi que se resume nos três postais que vos foram distribuídos:
        Postal nº 1 - Versículo 34 da Sura 41: Responde à agressividade com bondade.
        Postal nº 2 - Ibn 'Arabi: O olho é como um espelho: o espelho é único, mas no olho do que observa as imagens são múltiplas.
        Postal nº 3 - Ibn 'Arabi: A minha religião é o amor, o que significa que se o chefe me diz que o Islão é a violência, é porque está falando de outra religião que não da minha.


    2.- Mas, cuidado! Não identifiquem imediatamente o cowboy com a civilização americana e Sindbad com a árabe, pois do que quero falar aqui é do modelo de estrangeiro: quem possui esse poder incrível de controlar o nosso imaginário, forçando-nos a identificar o estrangeiro como um ser maléfico (cowboy) ou bondoso (modelo Sindbad)? Quero sugerir a hipótese de que o nosso modelo de estrangeiro nos é imposto pelos interesses da elite que controla o Estado e a sua máquina burocrática; porque se Sindbad emergiu como um herói na Bagdad do século IX, e mais concretamente no reinado do califa Harun Ar-Rachid, é porque naquele momento o Estado era ainda incipiente e a elite dirigente podia acumular riquezas e poder, apoiando-se num Islão que na sua essência era uma estratégia de comunicação.


    3.- (...)

segunda-feira, março 22, 2004

Fátima Mernissi

Fátima Mernissi, galardoada com o Prémio Príncipe das Astúrias, integra também o "Grupo de Sábios para o Diálogo de Povos e Culturas", seleccionados pelo Presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, para reflectir sobre o futuro das relações euro-mediterrâneas.

Por ocasião da recepção do prémio que atrás referi, pronunciou um discurso que gostaria de vos dar a conhecer, pela importância do seu apelo ao diálogo entre povos e culturas, tema da maior importância neste tempo em que os conflitos andam carregados de marcas étnico-religiosas por demais evidentes.
Usarei uma tradução tão fiel quanto os meus conhecimentos de castelhano e francês permitirem, cruzando versões, com a minha melhor boa vontade. Fá-lo-ei em vários posts, por vários dias, dada a extensão do texto, pouco adequada a este meio de divulgação.

  • O cowboy ou Sindbad? Quem vencerá na globalização?

    1.- Porque temos medo dos estrangeiros? Porque tememos que nos agridam e nos façam mal. Temos medo do cowboy porque se um infeliz estrangeiro se aproxima das suas fronteiras, automaticamente saca dos revólveres. Ao contrário, não temos medo de Sindbad, o Marinheiro, porque nos contos das mil e uma noites, os quççaç (contadores públicos) contavam, na Bagdad do século IX, que a sorte de poder viajar até ilhas longínquas e comunicar com estrangeiros trazia prazeres e benefícios. Na civilização do cowboy o estrangeiro é sempre o inimigo, porque o seu poder e glória residem no controlo das fronteiras; na civilização de Sindbad, o diálogo com o estrangeiro é enriquecedor.

      1.1- Sindbad é o contrário de um emigrante, pois regressa sempre ao seu ponto de partida - Bagdad. Nas suas sete viagens sai de Bagdad num barco, rio Tigre abaixo, até ao porto de Bassorá, donde então segue, quando a monção sopra de Ocidente para Oriente, a bordo de navios, repletos de mercadores árabes ou persas, que sulcam o Oceano Índico até aos portos das ilhas da Malásia, Indonésia e China. Sindbad e os mercadores que sobreviviam aos nufrágios ficavam nos portos asiáticos por seis a oito meses, esperando a estação do ano em que a monção fosse favorável, soprando de Este para Oeste. Mas Sindbad não era uma simples figura de ficção. Ele representava uma classe de mercadores de Bagdad que obtinha riqueza e prazer das viagens e da comunicação com os estrangeiros:

        1.1.1.- (...)

sábado, março 20, 2004

Que viva a Primavera!

A Primavera chegará hoje, pelas 06h50.

Composto a partir de um papel de fundo para mensagens electrónicas (letter), de Incredimail.

quinta-feira, março 18, 2004

Isto é só um "supônhamos"

Vamos admitir que os vários canais de televisão abandonavam a frivolidade e alarvice da sua habitual programação, tão dirigida, como dizem, ao (des)gosto do "povo".

Será que o "povo" deixaria de ver televisão? De que se ocuparia, então, nos tempos livres?

quarta-feira, março 17, 2004

Seremos uma sociedade em risco?

Interrogo-me frequentemente sobre a forma pouco receptiva como a maioria da população reage à oferta cultural, desprezando oportunidades de se enriquecer ao nível do conhecimento e mesmo da fruição do prazer estético que determinadas actividades visam facultar.

Estou certo de que não é fácil, nem gratificante, confrontarmo-nos com a nossa ignorância perante este ou aquele facto, esta ou aquela situação, mas isso sucede-nos todos os dias nas mais diversas e costumeiras ocasiões de contacto social.

Também tenho detectado, contrariamente ao que era habitual há alguns anos atrás, que há quem patenteie, pública e ostensivamente a sua ignorância, como que pressupondo que a sua atitude é aceite socialmente.

Há nestas minhas observações, se as interpreto despreconceituosamente, a evidência de alguma perda de valores relacionados com o saber.

Se as premissas forem verdadeiras e este meu raciocínio estiver correcto, estamos a viver uma grave doença social.

Como remediar uma doença, quando se rejeita a vacina e a medicação?

terça-feira, março 16, 2004

A Al-Mu'tadid

É tempo de um novo poema de origem luso-árabe. Hoje é a vez do mais brilhante poeta silvense, Ibn 'Ammar e, a meu ver, do seu mais belo poema:


  • mais uma rodada, copeiro,
    que já se ergue a aragem da manhã
    e a estrela de alva
    desviou a rota da noite viajeira.
    A alvorada trouxe-nos brancura de cânfora
    assim que a noite reclamou seu negro âmbar.
    o jardim parece uma donzela vestida com túnica
    bordada a flores e adornada com pedras de orvalho
    ou então, jovem ruborizado de pudor de rosas
    alentado com a sombra do mirto.
    e esse jardim,
    onde o rio lembra branca mão
    pousada sobre um tecido verde,
    mostra-se agitado pela brisa:
    dir-se-ia, meu Rei,
    a tua espada desbaratando exércitos.
    meu senhor!
    verde brilhante são os favores da tua mão
    quando os céus se turvam de cinzento.
    teu dom é sempre generoso:
    se virgens dás têm seios opulentos
    se cavalos são de nobre raça
    se alfanges têm pedras preciosas.
    meu Rei!
    quando os demais reis se dessedentam
    esperam que ergas primeiro a tua taça.
    és mais refrescante para os corações
    que o orvalho formado gota a gota
    e mais agradável para os olhos
    que o doce peso do sono.
    faz faiscar a chispa da tua glória
    que não deixa nunca o fragor da lide
    senão para se abeirar do lume
    que mandaste acender para os teus hóspedes.
    Rei,
    esplêndido no talhe e no espírito,
    como o jardim, belo de perto ou à distância.
    quando a teu lado me é dado
    o rio celestial que mana do teu ser
    é bem certo que estou no Paraíso.
    fizeste pender da tua lança
    as cabeças dos reis teus inimigos
    só porque o ramo agrada
    na impaciência da flor?
    tingiste a tua cota com sangue de heróis
    só porque a formosa se enfeita de vermelho?
    a espada, se a tua mão a empunha,
    dá lugar a súplicas mais eloquentes
    que as do melhor dos tribunos, quando fala.
    este poema é para ti.
    como um jardim que a brisa visitou
    e no qual repousou o orvalho da noite
    até que o ataviou de flores.
    do teu nome fiz uma veste de ouro.
    em teu louvor derramei o melhor almíscar.
    quem me suplantará? se o teu amparo é sândalo
    eu o queimei no fogo do meu génio,
    estavam as brasas ainda a arder.


ALVES, Adalberto
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa, 1998

segunda-feira, março 15, 2004

Meditação sofrida

"Na barca do coração", de Casimiro de Brito, com data de 14 de Março de 2000:


  • " Meditação sofrida sobre o tanto que se rouba - a própria Natureza é implacável - aos que não têm quase nada. As inundações de Moçambique são o último exemplo: a guerra tirou-lhes tudo, a fome levou o resto e do nada que ficou vieram as águas e levaram mais um bocado - as magras alfaias, o chão da casa e um sem-número de vidas. O que resta? Cenas agónicas: um bébé que nasce no cimo de uma árvore; as minas arrancadas pelas cheias, indo trucidar não se sabe quem nem onde nem quando; a disputa com as cobras por um galho mais alto onde possa chegar a corda de um helicóptero tantas vezes imaginário; a cólera depois do salvamento, de quê? Um povo que vai caindo um pouco mais, quando parecia improvável que houvesse ainda outro buraco."


    " Não devias fumar tanto, vais acabar com um cancro no pulmão - disse um amigo a Michel del Castillo. Que lhe respondeu: O que me custa viver não é o futuro mas o presente, este instante, este momento que o cigarro me ajuda a esfumar. "

    Camilo Pessanha
    (Coimbra, 1867-1926)
    "Imagens que passais pela retina"

    Imagens que passais pela retina
    Dos meus olhos, porque não vos fixais?
    Que passais como a água cristalina
    Por uma fonte para nunca mais!...

    Ou para o lago escuro onde termina
    Vosso curso, silente de juncais,
    E o vago medo angustioso domina,
    - porque ides sem mim, não me levais?

    Sem vós o que são os meus olhos abertos?
    - O espelho inútil, meus olhos pagãos!
    Aridez de sucessivos desertos...

    Fica sequer, sombra das minhas mãos,
    Flexão casual de meus dedos incertos,
    - Estranha sombra em movimentos vãos.

sexta-feira, março 12, 2004

Só por aqui passei para deixar registada a minha


I N D I G N A C I Ó N

quinta-feira, março 11, 2004

A Silves. Ao Sul

Um amigo enviou-me o poema que se segue, tão simplesmente porque contém uma breve referência a Silves e achou que eu iria gostar:


  • Benvindo aos mares do sul.
    Sejam claros os dias
    pelos caminhos que trazes.

    Onde um pássaro se despede.

    O sol cai sobre o corpo
    frente aos desejos da manhã.

    A fronte
    barco saindo a baía
    num adeus a estas praias do
    sul.

    O temor é o mês diurno, o
    meio-dia num pátio de Silves.

    Dormimos sobre a infância
    sobre os lugares da juventude
    a paisagem
    as palavras que dissemos

    não podiam ser noutro país
    nem noutro corpo
    nem noutro século.

    E apesar da rota que traça
    o marinheiro

    benvindo aos mares do sul.

João Miguel Fernandes Jorge
À beira do mar de Junho

Gostei, Manuel!
Um abraço.

quarta-feira, março 10, 2004

Ainda o "diário" de Casimiro de Brito

Com data de 10 de Março (2000):


  • " O mundo é simples. O meu olhar é menos. "


Casimiro de Brito
Na barca do coração
Campo das Letras, Porto, 2001

Pegai na frase e levai-a convosco, a passear.

segunda-feira, março 08, 2004

Dia Internacional da Mulher

Ana Drago escreveu hoje no PÚBLICO sobre a condição de ser mulher, afirmando a dado passo:


  • " Hoje sinto que sou todo esse lugar da experiência quotidiana de uma menoridade, um 'algo de menos' que é a definição implícita de condição feminina por esse mundo fora, sistematicamente transcrita em violência sobre os seus corpos e as suas sexualidades. "


Esta transcrição é um só um pequeno período do seu texto. Pode aceder ao texto integral clicando AQUI.

quinta-feira, março 04, 2004

De novo, o "diário" de Casimiro de Brito

Com data de 4 de Março de 2000:

    " Leio filósofos, é essencial lê-los para criar alguma distância, alguma ironia mais envolvente, mas, a breve trecho, desço ao chão. Para respirar o que há. Não são as nebulosas nem as matérias negras, sequer o mar imenso da humanidade que escapa à filosofia. É a areia debaixo do meu pé, a lágrima cada vez mais seca do menino que pede dinheiro para o pai, a rã que no charco subitamente salta, esta dor oblíqua de que não sei o nome. É o mínimo, é o inesperado, o próximo, o acaso. Várias são as verdades e muitas mais as suas vertentes. E eu não sei onde está a sabedoria. "


Casimiro de Brito
Na barca do coração
Campo das Letras, Porto, 2001

segunda-feira, março 01, 2004

Março. É mês de Primavera!

A chegada do mês de Março sugere-me a proximidade da Primavera.
Notando que irá sair pela linha de fundo deste meu blog o último poema de expressão luso-árabe que aqui deixei, procurei um trecho que recreasse este renascer primaveril, tão simbolizado no amor e no êxtase dos sentidos, como o deste poema de Ibn Habib, de Silves.


  • quando ofereces aos que estão presentes
    o vinho ardente que nas faces sentes
    (como o copeiro as taças ao redor)
    não deixo de beber um tal rubor.

    esse vinho é tornado generoso
    por quem, ao olhar-te, lhe confere cor
    enquanto o outro se torna gostoso
    nos ágeis pés do vindimador.


ALVES, Adalberto
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa, 1998