A Câmara Municipal de Silves está a promover um concurso de fotografia temática, que dividiu em quatro etapas, cada uma com o seu tema, e que se prolongará até ao próximo mês de Junho.
Na 1ª etapa, dedicada ao Ambiente, muni-me do meu equipamento fotográfico e parti em busca do ambiente que se vive no concelho. Nem todas as fotografias que bati foram pensadas para efeitos de concurso, como a que se segue.
É porque é agradável avistar assim, ao longe, a cidade, junto a este curso de água, no momento da fotografia alimentado pela enchente da maré, mas que na vazante irá desaguar no rio a poucos metros deste local.
Para aqui chegar, tive que percorrer um caminho que se destaca da EN 124, junto ao Falacho, núcleo habitacional cuja população sofre, há longo tempo, pelo menos há mais de 17 anos, quase que ininterruptamente, de uma degradação acentuada do nível da sua qualidade de vida, dificilmente equiparado a qualquer outro local do concelho de Silves. Ali se ergue uma estação de tratamento de esgotos que nunca, ou quase nunca, funcionou devidamente, apesar de diversas intervenções técnicas. A situação tornou-se tão vulgar que a população, diminuta, parece já ter-se habituado, depois de tanto protesto, com promessas de solução que nunca foram satisfeitas, até à elaboração de volumosos dossiers, dirigidos às mais diversas entidades, na grande maioria dos casos sem sequer merecer uma simples confirmação da recepção.
Brada aos céus!
O cheiro que emana da estação de tratamento é de tal ordem que um amigo que me acompanhava foi acometido de náuseas, ao ponto de quase vomitar se não se tivesse afastado.
Este cheiro atinge a cidade, em horas de maré-cheia, conduzido pelo rio e invadindo-a através das sarjetas, tornando-se particularmente nauseabundo quando, no Verão, o calor aperta.
Em Portimão, um teatro de revista, pelo Carnaval, intitulava-se, a propósito, «Pfuu, dieb! Cagarem-se?» ou algo semelhante. Nessa cidade não sei que desculpa fornece o senhor presidente da Câmara, mas aqui, em Silves, já tenho lido em jornais, a senhora presidente da Câmara desculpar-se com a fábrica da laranja, que sempre gera empregos na cidade.
Temos mesmo muito brandos costumes. Nem partidos, nem iniciativa privada, nem fiscalização oficial, talvez alguns protestos desgarrados, algumas mãos segurando o nariz em hora de maior pressão e pouco mais.
Pois o tal curso de água, bucólico, gracioso, correndo devagar para o rio, na vazante, tem esta história fotográfica sequencial.
Chega límpido, transparente, até junto à saída de um cano, com um caudal assustador, que provém da estação de tratamento, e então, repleto de espuma, água suja, poluída e poluente, a cheirar terrivelmente mal, corre até atingir o rio, para Silves ou para Portimão, conforme a maré, a que se vão juntando os detritos das suiniculturas e tudo o mais que por aí existir.
A agressão a que está sujeita a população do Falacho, porque é de pessoas que se trata, deita por terra qualquer outra iniciativa ambiental que, eventualmente, pudesse merecer algum elogio.
Até quando!?
P.S.
Também ontem, um outro blog de Silves, o Saco dos Desabafos, se referia a questões ambientais, se bem que sobre matéria mais sólida; o lixo urbano nos contentores, a deitar fora, aguardando a melhor hora para ser avaliado - a passagem da procissão da Páscoa.
16 comentários:
Junto a minha voz às tuas palavras. Não conheço tecnicamente a solução e pouco sei sobre as decisões politicas adoptadas ao longo do tempo para a resolução do problema, que acredito serem as melhores. Contudo posso dizer que cheira mesmo mal.
Se pensarmos que a população da cidade são cerca de 8500 habitantes e temos este grave problema ambiental, como será no futuro com o crescimento natural da cidade?
Este não é um problema exclusivo do executivo autarquico ou governo central, este é um problema de todos, porque o ar é de todos, como dizem os gatos fedorentos (fedorento como o rio que temos).
Carlos
Também estou de acordo com o que dizes.
Obrigado pelo teu testemunho.
Esta tua denúncia pode estimular os concorrentes a incluirem uma ou mais fotos sobre o "Aroma do Falacho" no tema ambiente.Um abraço.
Apesar de uma maior divulgação do problema, preferia que não houvesse "aroma" no Falacho.
Um abraço, meu amigo.
Há quanto essa gente sofre de tal mal? Ninguem a ouviu...
Há cerca de 4 anos, nós, BE, fomos lá, ao Falacho,e tudo ao nosso alcance fizemos, mas só promessas camarárias. de "imediatos" obtivemos, e a gente continuou naquele flagelo: o ar nauseabundo, o tal "curso de água bucólico" apodrecendo. A inércia, e amachucamento conduzir-nos-ão
ao apodrecimento total?
Homenageamos-te!
Luísa
Eu só imagino o que era eu a viver ali. Que vida!?
Lembro-me de quem tinha um restaurante, que já fechou e agora tem um lugar de hortaliça e fruta. Pergunto-me se alguém comprará alguma coisa, a não ser que seja um residente rotinado pelas circunstâncias.
Outro homem lá mais para baixo, junto ao rio, possuía um ancoradouro, uma pensão e sonhava melhorar a sua vida, agora que tinha regressado do estrangeiro. Só ali se desembarca uma vez, para não mais voltar. O barulho que por aí fez, os protestos que manteve; tudo sem consequências.
Recordo, há alguns anos, quando orientava os noticiários da Rádio RACAL e entrevistei o engenheiro responsável:
- «Aquilo é uma questão técnica, que se resolve em dois ou três dias.»
Pois é! "Tá-se mesmo a ver!"
Já lá vão, pelo menos, dezassete anos.
Até a clínica de desintoxicação parece já não ter ninguém. Provavelmente desintoxicaram-se com o cheiro a merda. :-)
Isto é mesmo uma tristeza!
Um beijo.
SUBSCREVO E ASSINO POR BAIXO TUDO O QUE RELATAS ...NÃO FIZ RECONHECIMENTO DO PERCURSO POIS JÁ ME BASTA SENTIR O CHEIRO NAUSEABUNDO EM CERTOS - MUITOS!- DIAS EM QUE ELE (cheiro) ME ENTRA PELA CASA ADENTRO ...QTO AO RESTO ... O SOFRIMENTO DA POPULAÇÃO, A AGRESSÃO AO AMBIENTE ,OD DIREITOS DO POVO ...TUDO ISSO PRÓS NOSSOS POLITICOS É TRETA E ... MAL CHEIROSOS COMO ELES SÃO ...TUDO FICA COM O MESMO FEDOR . UM ABRAÇÃO PARA TI
JOÃO CARREIRA
"Poie é, está-se mesmo a ver..." Tristeza com a qual não me conformo
Na Idade Média, tinham medo de pecar por perda do lugar no Céu, mas, agora...uns merdam, a maioria; os restantes, gozam aumentando sofregamente o adubo-merda nas dispensas próprias, sem consistência de ACTUALIDADE CERTA E NEM DE HERANÇA VÁLIDA,"POIS É, ESTÁ-SE MESMO A VER... ABRAÇO.lUISA
herança válida...
João
Daqui vai um abraço com votos de melhores dias. É que estas conversas não são conversas a dois; neste preciso momento, este escrito sobre o ambiente já ultrapassou os 100 leitores.
Outro abraço, Luísa.
Aqui fica a continuação:
http://sacodosdesabafos.blogspot.com/2006/04/concurso.html
E obrigado pela inspiração!
Talvez seja melhor, dado o caso, falar em expiração!!, não é?
Perdoem a brincadeira!
Expiração, seguramente, Manuel.
Quem suportaria inspirar o cheiro do esgoto e o cheiro dos contentores ao mesmo tempo!?
Haja ao menos uma pausa para expirar.
Significará isto que parte dos benefícios do presidente da Câmara de Silves é um "extra" (des)graciosamente concedido por quem tem interesse nesta situação?
Mas ficará assim tão caro solucionar o problema que compense andar mais de 17 anos a untar polítiqueiros? Esta gente é maluquinha?
(abano a cabeça...)
Raio de país.
Um abraço,
RS
Não creio que seja assim tanto quanto pensas. Creio antes que é incompetência técnica, ausência de programação, gastos sumptuosos para encher o olho e o orçamento não dá para tudo; iremos saber em breve que a dívida deve rondar, se é que já não ultrapassa, o valor do orçamento de um ano inteiro.
Raio de país!
Clitie
Podes informar-te melhor em: www.cm-silves.pt.
Beijo.
A sua recolha de links de poetas luso-árabes é deliciosa!
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