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Em homenagem a Cesariny, apetecia-me passar aqui a sua Pastelaria, mas já o fiz por duas vezes (pode, no entanto, lê-la aqui).
Recordemo-lo, então, com um seu outro belo poema:
- You are welcome to Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny
Quinze Poetas Portugueses do Século XX
Selecção e Prefácio de Gastão Cruz
Assírio & Alvim, Lisboa 2004
3 comentários:
Felizmente ficam-nos as suas palavras!
As suas palavras e as suas pinturas, Helena.
Também lhe prestei homenagem. Merece todas, pela grandeza do poeta e do artista e pelo exemplo do homem!
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