Prometi há algum tempo ao José Carlos Barros, de Um pouco mais de Sul, que antes ainda de percorrer todos os poetas silvenses ligados à civilização do Al-Ândalus, traria a este blog Ibn Darraj al-Qastalli (de Cacela), que alguns, segundo Adalberto Alves, afirmam ser de Jaen (Qastalla).
Pondo de lado as polémicas sobre a sua naturalidade, deixem-me contar-vos que depois de alguma hesitação na escolha, optei definitivamente pelo poema que se segue:
TIVEMOS,
Em vez de uma longa vida de doçura
A travessia de vales e montes lamacentos;
Em vez de noites breves sob os véus
O temor da viagem no seio de infindável treva;
Em vez de água límpida sob sombras
O fogo das entranhas queimadas pela sede;
Em vez do perfume errante das flores
O hálito esbraseado do meio-dia;
Em vez da intimidade entre ama e amiga
A rota nocturna cercado de lobos e de génios;
Em vez do espectáculo de um rosto gracioso
Desgraças suportadas com nobre constância.
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa 1987
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