terça-feira, junho 15, 2004

"Poetas-espiões" no al-Ândalus

Relia algumas das comunicações apresentadas no I Colóquio Internacional "História e Cultura Luso-Árabes", de Outubro de 1998, em Silves, nomeadamente uma comunicação de Teresa Garulo, professora da Universidade Complutense de Madrid, sob o título " Poesia árabe em Portugal", (in XARAJÎB, Revista do Centro de Estudos Luso-Árabes, Silves - Portugal - Nº 1/2000), quando fui surpreendido pela figura de Ibn al-Asili.
Ibn Bassam, de Santarém, já aqui referido por mais de uma vez, escreveu sobre Ibn al-Asili, que conheceu em Lisboa como secretário de um governador (qa'id) de nome al-Mansur. Poeta originário de Saragoça, muito provavelmente, manteve curiosas relações com a zona do al-Ândalus que é hoje Portugal. Conta-nos Ibn Bassam, que Ibn al-Asili esteve em Coimbra, pouco depois da conquista de Afonso VI (1072), disfarçado de mendigo profissional. Servindo com trabalhos de informação os interesses de alguns monarcas da época, que se não coibiam de utilizar os serviços destes mendigos profissionais para estas missões, tanto em Coimbra, como depois noutras cidades do sul de Portugal, nomeadamente Beja, Silves, Santa Maria (Faro) e ainda outras cidades da costa de Huelva, Ibn al-Asili não se teria saído muito bem.
O poema de Ibn al-Asili, que mantenho em castelhano porque não arrisco uma tradução, retrata o seu sentimento durante a sua permanência em Coimbra:

  • (...)
    Vine a Coimbra lleno de esperanza
    Y no encontré buen trato ni comodidades.
    Me privaron de todo, cual si fuera
    Menos que un ser humano
    y estuviese pidiendo lo imposible.
    Quise volver, mas quién me ayudaría
    si me habían cerrado tantas puertas?
    Cuando rondó mi mente la añoranza
    las lágrimas me ahogaran
    - era lo inevitable -.
    Podré volver, amigos, a vosotros?
    Podremos, algún dia, reencontarnos?
    Después de separarnos permanezco
    en el mar de las penas, luchando por no ahogarme.
    Aunque tengo ambición y voluntad,
    me he convertido en un desecho
    en poder de los cristianos (...)



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