Gastão Cruz foi de entre os poetas contemporâneos algarvios o que primeiro identifiquei, já lá vão umas dezenas de anos, como meu conterrâneo. Estou a referir-me ao Algarve e não a Silves. Neste meu blog, embora sempre tivesse um lugar reservado para ele, umas vezes por uma coisa, outras vezes por outra, não tinha ainda tido o ensejo de publicar um dos seus poemas. Mesmo ontem, quando já era conhecedor do seu Grande Prémio de Poesia, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores, o preteri, em função da continuidade dos poemas de Luiza Neto Jorge.
O poema que escolhi, de Rua de Portugal, Assírio & Alvim, Lisboa, 2002, precisamente a obra premiada, lembra-me, pela temática, alguns dos escritos do meu amigo José Carlos Barros, de Um pouco mais de Sul:
Duas Hortas (Estoi)
Havia a horta havia
um limoeiro
ao fundo alfarrobeiras à frente as
oliveiras, no muro uma passagem
depois de atravessarmos
a estrada
Na horta atrás da casa laranjeiras
figueiras e uma
romãzeira junto à nora
Às vezes vagarosa a mula com antolhos
rodava toda a tarde
fazendo os alcatruzes despejar
incessantemente água
Não consigo resistir. Tenho aqui um outro. (Também não é todos os dias que se ganha um grande prémio de poesia)
ALGARVE
A luz amadurece as
pedras e os figos nos lados dos caminhos
adoça as alfarrobas fende a casca
cinzenta das
amêndoas e desprende-as
varejamos
as que ficam presas de leve
aos ramos;
no armazém da casa amontoadas
descascar as
amêndoas o verão