segunda-feira, março 13, 2006

O deserto cultural

Teatro Mascarenhas Gregório, Setembro 2005, © António Baeta OliveiraSim, meus amigos.
A cidade de Silves, tantas e repetidas vezes rotulada de Capital Algarvia da Cultura pela Sra. Presidente da Câmara, é um deserto cultural.
Nada de relevante acontece em Silves desde 1 de Janeiro de 2006.
Penso, por vezes, que a Sra. Presidente pretende alargar aquele conceito de capital da cultura incluindo a vizinha cidade de Lagoa, de tão próxima (escassos 6 km), pois não fora a actividade cultural que ali tem lugar todas as semanas eu já teria morrido de tédio e, como eu, alguns outros silvenses que ali se deslocam com alguma frequência, à falta de alternativas locais.

Silves nunca assistiu a um espectáculo do seu grupo de teatro regional, a ACTA, nem a qualquer actuação da sua orquestra regional, a Orquestra do Algarve. A justificação (desculpa) recaía sobre a falta de infra-estruturas culturais, que entretanto os outros municípios, Lagoa por exemplo, foram construindo. O ano passado foi inaugurado o velho Teatro Mascarenhas Gregório, em vésperas de eleições autárquicas, para logo fechar e se manter fechado ao grande público. Mesmo esta reconstrução não vem suprir as necessidades de um auditório, que só não se torna imperioso, porque a cidade, de tão adormecida culturalmente, não chega a sentir a sua falta.

Como se há-de sentir falta ou gostar do que se não conhece!?

Isto vem a propósito do desgosto que senti, neste final de semana, por não ter podido partilhar com outros cidadãos de Silves o prazer que me deu a audição do concerto da Orquestra do Algarve, em homenagem a João de Deus, na Igreja Matriz de São Bartolomeu de Messines, por iniciativa e exclusiva responsabilidade da Caixa de Crédito Agrícola local.


Oquestra do Algarve na Matriz de Messines em homenagem a João de Deus, Março 2006, © António Baeta OliveiraA foto foi batida com a câmara do meu telemóvel e não faz jus a uma igreja repleta de gente; de gente simples, de gente comum, que aqui compareceu a esta homenagem ao seu mais ilustre conterrâneo e vibrou aos acordes da Abertura da opereta O Morcego, de Johann Strauss Jr., e riu, prazenteiramente, com as sonoras gargalhadas, expressivamente entoadas pela voz da soprano Ana Paula Russo, em Mein Herr Marquis.


É com uma orquestra regional, conhecedora da sua região e da sua gente, que se pode trabalhar em repertórios que, sucessivamente, vão conquistando públicos e formando ouvintes, como já aqui dizia o ano passado, em post que intitulei Silves e a Orquestra do Algarve, e que ainda se pode ler, clicando no sublinhado atrás.

À saída do concerto e a este propósito, um responsável camarário afirmou-me que, a partir de Maio, a Orquestra do Algarve terá concertos para Silves e apoio institucional da autarquia.

Já não era sem tempo!
Finalmente!

P.S.
Esta ideia de restaurar edifícios para os manter fechados, parece revelar uma preocupante tendência da autarquia. Veja-se o caso do Teatro Mascarenhas Gregório, citado atrás, e o do CELAS (Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves) (clique, para informação complementar), que continua fechado há meses, sem ser atribuído à instituição para a qual foi concebido e justifica o restauro do edifício anterior (o antigo Matadouro Municipal). O CELAS continua teimosamente fechado, sem servir nada nem ninguém, apesar de decisão judicial contrária às intenções da autarquia, que também não conta com parecer favorável da Assembleia Municipal.

7 comentários:

Manuel Ramos disse...

E eu que pensava que a Assembleia Municipal era órgão deliberativo!!
Democracia às avessas, a nossa...

Manuel Ramos disse...

E já agora, corrijo: não foi bem um parecer, o que deliberou a Assembleia. Foi uma proposta de recomendação de cumprimento de uma deliberação (1997), para isso exigindo ao executivo camarário a revogação de uma deliberação recente da câmara (Fev. 2005)baseada na "deficiente" informação(eufemismo meu) fornecida à totalidade do executivo camarário.

Unknown disse...

Para sermos precisos é importante referir que, o que a Assembleia Municipal votou, por maioria, em sessão de 30 de Junho de 2005, foi uma recomendação à Câmara Municipal. Deliberou recomendar. Não parece assim tanto às avessas a nossa democracia, embora creia que se tivesse sido uma deliberação formal, o resultado viesse a ser o mesmo; ignorar, deixar esquecer. Poderia até acontecer que a Assembleia se esquecesse mesmo da deliberação, como parece ter-se esquecido da recomendação deliberada.
Coisas!!!

Unknown disse...

Acabo de publicar e vejo que corrigiste a tua afirmação anterior.
Fica tudo mais esclarecido.

Manuel Ramos disse...

Embora, e para os que nos possam estar a ler, possa parecer chata esta insistência no assunto, mesmo assim confesso que nem entendo bem o que é isso de uma "proposta de recomendação" realizada em sede de um órgão deliberativo!! Quem tem poderes deliberativos, delibera (um porra, aparte). Ou será que, por vivermos uma democracia "tão avançada", já não há sequer quem assuma alguma autoridade e responsabilidade quanto aos poderes que detém?

Unknown disse...

É o que parece. E usa dizer-se que, em política, o que parece é.

Unknown disse...

Agradeço ao Hélder, em Contrasenso, a referência que faz a este blog e a sua crítica à gestão autárquica que vem ignorando a ACTA e a Orquestra do Algarve, o que classifica como «... autêntico desprezo cultural. De pobreza política, portanto!»