quinta-feira, novembro 02, 2006

Pela Feira de Todos-os-Santos

Alhos e cebolas, Feira Anual 2006, © António Baeta Oliveira


  • Fui ao ensaio, antes da estreia.
    Escondi-me nos bastidores.
    Dizem que já nada é como era, mas eu, com os olhos de quem está por detrás, embora dentro do palco, entendo que esse é o olhar de quem assiste à cena e não faz parte dela. Por dentro, tudo se mantém, igual, como o próprio Homem, com os seus anseios e as suas misérias.
    Avistei a cenografia do Carrossel 8 e pude apreciar, apesar dos motivos pintados de novo, a sugerir um novo gosto, mais ao gosto dos novos clientes, a forma como o maquinista interpreta o seu trabalho, como conhece cada uma das porcas que apertam aquele carril, como sabe da sequência da montagem do camelo ao lado da girafa, que fica por trás do leão que, cobiçoso, observa a gazela. Como sabe da data em que pela primeira vez o carrossel se apresentou em cena, na Feira de Famalicão, como fazia a volta a Portugal, de Norte e Sul, e como se ficou, a rolar no mesmo lugar, até que o recuperaram, para esta nova peça, quando fechou a Feira Popular em Lisboa.
    Tudo isto de improviso, sem recurso a texto, porque tudo flui como um dia após o outro, porque não há dramatização quando o drama é a própria vida, porque não há enredo enquanto a vida se vive.
    Senti essa verdade quando o Mário Martins, o contra-regra, me falou na cena da Esfera da Morte em bicicleta a pedal.
    O Mário é filho do Zé Martins, esse herói do combate à força centrífuga, negando a toda a hora uma queda na vertical.
    O Mário ainda vive em cena, como um velho actor, que só abandonará o palco quando o abandonar de vez, definitivamente.
    Saímos dos bastidores e evocámos a saudade nuns copos de cerveja, olhando as farturas, as amêndoas, as castanhas, as bolotas, os peros, em fim de tarde, com o Sol a baixar, já numa luz coada, marcando o seu tom outonal sobre os alhos e as cebolas, nesta Feira de Todos-os-Santos do ano de 2006.


P.S.
Permitam-me um apelo à vossa participação em

                    (Clique sobre a imagem)

12 comentários:

HFR disse...

Belo texto, António. Abraço do Helder.

Unknown disse...

Obrigado, Helder.
Outro abraço.

Carla disse...

Ando sem tempo e a fugir
Mas vim desejar-te
Um dia a sorrir...

Beijos e bom fim de semana

Torquato da Luz disse...

Não há direito. Neste dia cinzento e encharcado, vieste agravar tudo com uma saudade de muitos anos. Mesmo assim, um abraço e obrigado.

Al.Jib/Gabriela R. Martins disse...

e todos os anos ,este cheiro melancólico ao barulho e às luzes da feira leva.me ,de volta ,à infância ...

bolas!

estou a ficar velha.

Unknown disse...

Se bem me recordo, na infância moravas bem perto da Feira.
Recordo ainda o meu espanto de criança quando vi pela primeira vez uma cama com dossel, precisamente no quarto dos teus pais.
Um beijo.

MaD disse...

Que saudades de uma feira com um carrossel 8 "a sério" como aqui é tão bem descrito...
Cumprimentos, vizinho António.

Unknown disse...

Parente
O Carrossel 8 de que falo esteve mesmo na Feira de Silves em 2006. O que digo é real se bem que filtrado por alguma discrepância no tempo.

MaD disse...

António
Só pelo carrossel 8 tenho pena de não ter ido à feira de Silves.
Mas matei saudades pela foto que me enviou, que muito lhe agradeço.
Até a minha Maria disse: "Ai, que engraçado!..."
Um bom fim de semana para si.

Unknown disse...

Parente
A sua resposta seguiu por email.
Se ainda não o fez, mecê e a sua Maria, adiram à Gripenet.
Um abraço.

MaD disse...

António
Em nome da minha Maria, muito obrigado por mais esta foto do carossel 8.
Quanto à Gripnet, aderi de imediato. A minha Maria é que, apesar de o ter prometido, ainda não o fez, desculpando-se com a azáfama doméstica... Mas, fá-lo-á.
Cumprimentos.

Unknown disse...

Um abraço, Parente.