Pois foi em busca de novos testemunhos, para além dos que já conhecia no meu concelho, que me desloquei a Almodôvar, em dia muito chuvoso, de modo que esta foto do exterior, batida com a câmara do telemóvel, não faz jus à apresentação do edifício do Museu da Escrita do Sudoeste, aberto ao público por ocasião das Jornadas Europeias de Património.Mas o meu passeio não se confinou à visita do Museu. Visitei ainda algumas outras localidades do concelho e assisti à actuação de corais femininos do cantar alentejano, como sucedeu em Nossa Senhora dos Padrões e onde me encantei em duas imagens de Maria, de produção popular e provavelmente local; uma ternura!
Mas a grande e definitiva surpresa ocorreu na Matriz de Santa Cruz, o já referido templo manuelino, pelo cair da tarde, bem longe do mundo urbano e dos seus ruídos, num momento de fruição quase mágico, ao ouvir os primeiros acordes de música antiga de referência mediterrânica, superiormente bem interpretada, ao som da harpa, do fagote, do alaúde, da flauta, da percussão e da voz feminina.
Foi uma Jornada de Património a perdurar na memória.
P.S.
Se estiver interessado em ver mais fotografias sobre esta jornada de Almodôvar, onde se incluem as referidas imagens de Maria e os frescos da capela-mor, clique em Escrita do Sudoeste e Almodôvar
14 comentários:
Das pedras do Museu da Escrita do Sudoeste fica o mistério da escrita que ainda guarda, pelo menos para mim, um segredo ainda bem guardado. Já a Igreja de Santa Cruz, mesmo sendo a ter ainda visitado, é-me familiar. Aí está o que é o nosso manuelino mais genuíno, património do Alentejo e Algarve, um poço de ambiguidade estética, num momento de mudança de paradigmas (gótico/renascença), nos inícios de Quinhentos. O portal, é versão simplificada do de Alvor, até do de Odeáxere. O interior de três naves, a matriz de Monchique; a capela-mor igual a tantas outras da mesma época. O que a distingue é ter conservado os frescos renascentistas/maneiristas dos finais do séc. XVI, príncipios de XVII; surpreende também a estreiteza das naves laterais (quase inúteis) que a aproximam das experiências de igrejas-salão realizadas na mesma época (hallenkirchen) e terminam na adopção da nave única, como no caso da Misericórdia de Silves. Pena não se conseguir ver o arco-triunfal, ou as pias (água benta ou baptismal), pois normalmente registam alguma liberdade criativa pela sua decoração.
Uma pequena jóia perdida no Alentejo profundo.
Obrigado pelo comentário especializado, Manuel.
Outra coisa curiosa é o que acontece na capela à esquerda da capela-mor, que apresenta duas saídas laterais: uma para o púlpito, à esquerda e outra para a sacristia, à direita.
Imagina como fiquei quando os músicos acabaram o seu ofício e se retiraram para dentro da capela, desaparecendo. :)
Quanto ao arco e ao baptistério, o problema foi a falta de luz, a que se juntou a humidade e alguma água da chuva, provavelmente, e que não permitia o disparo do obturador.
Um abraço.
Já guardei as notas, como um roteiro. Gosto destas descobertas.
Helena
Não será fácil a visita sem prévio contacto com a autarquia local ou mesmo com o pároco, no que se refere a Santa Cruz. De resto tudo poderás visitar, embora o Museu não tenha ainda aberto as suas portas (aguarda inauguração).
Outra coisa a que voltarei por aqui será na rota da gastronomia, embora desta vez me tenha limitado a um entaladinho de presunto, em generosas fatias de pão caseiro.
Um abraço
Não será tão cedo a ida e espero que o Museu já tenha aberto; é que dia 16 parto para Barcelona. Um abraço
A Igreja de Santa Cruz parece ser um tesouro a explorar! Quanto à Ermida de Senhora da Lapa, também "vi" um morábito assim que vi a foto, mas os meus olhos são muito suspeitos nestas coisas...
Desejo a continuação de Boas Viagens! (que também o são para nós!)
O mau tempo é que me afastou de uma ida a Almodôvar, mas assim que abra definitivamente espero visitar o museu. Quanto aos monumentos visitados parecem-me bastante interessantes e constarão também na programação do próximo passeio a Almodôvar. Tal como o Manuel refere é curiosa a síntese do nosso Tardo-Gótico/Manuelino na Matriz de Santa Cruz!
Abraço
Marco
Susecris e Marco
Um prazer vê-los por aqui, pelo que nos une em função da divulgação e da defesa do nosso Património.
Um abraço.
Adorei passear por Almodovar.
beijinhos e bom fim de semana
Em resposta ao comentário sobre a citação de Agostinho da Silva e, conhecendo um pouco a sua obra, penso que ele não pensa que somos comandados pelo Destino mas que não vale a pena pensarmos que tudo está nas nossas mãos pois a vida é composta por outros, por países, por épocas, por...
Bfs
Helena
Aqui, a tua resposta perde contexto, mas compreendo o que significas. Já houve quem lhe chamasse "O Homem e a sua circunstância".
Um beijo amigo
Ortega e Gasset. Um beijo bfs
Precisamente, Helena.
Obrigado, Nadir.
Um beijo amigo.
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