segunda-feira, agosto 18, 2003

Ash-Shilbia

Antes que esta página de entrada se apresente sem um poema e, de certo modo, na sequência da calamidade que atingiu os arredores de Silves e que comentei no último post, trago-vos Ash-Shilbia (A Silvense).
Ash-Shilbia é uma mulher, uma mulher do mundo muçulmano.
Este poema, dirigido como protesto ao seu soberano, revela algo de particular nesta civilização do al-Ândalus no que se refere ao estatuto social da mulher no Islão.
Ash-Shilbia viveu na época almoada, sécs. XII-XIII, num período em que se interpõe, por dois anos (1189-1191), o poder cristão, por via da conquista de D. Sancho I e dos Cruzados. Após esta conquista cristã, Silves volta por quase mais seis décadas, ao seio daquela civilização do Gharb al-Ândalus.

De CHORAREM os palácios é chegada a hora
Pois as próprias pedras se lamentam.
Ó tu que vais onde a Clemência mora,
Esperando pôr fim às mágoas que atormentam,
Diz ao Príncipe quando chegares às suas portas:
Pastor! Olha as tuas ovelhas quase mortas
Que ficam sem prado para pastar;
Deixaste-as à mercê de muitas feras.
Um paraíso, minha Silves, eras.
Tiranos te lançaram ao fogo do inferno
O castigo de Alá parecendo desprezar:
Porém, nada é oculto para o Eterno.

ALVES, Adalberto
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa 1987


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