sexta-feira, agosto 01, 2003

Evocação de Silves

Neste primeiro dia de Agosto, antes que os últimos poemas saiam pela linha do fundo.

Painel de azulejos, © António Baeta Oliveira

Fotografia de um painel de azulejos, em Silves.

Saúda, por mim, Abû Bakr,
os queridos lugares de Silves
e diz-me se deles a saudade
é tão grande quanto a minha.
saúda o Palácio dos Balcões,
da parte de quem nunca o esqueceu,
morada de leões e de gazelas
salas e sombras onde eu
doce refúgio encontrava
entre ancas opulentas
e tão estreitas cinturas.
moças níveas e morenas
atravessavam-me a alma
como brancas espadas
como lanças escuras.
ai quantas noites fiquei,
lá no remanso do rio,
preso nos jogos do amor
com a da pulseira curva,
igual aos meandros da água,
enquanto o tempo passava...
ela me servia vinho:
o vinho do seu olhar,
às vezes o do seu copo,
e outras vezes o da boca.
tangia-me o alaúde
e eis que eu estremecia
como se estivesse ouvindo
tendões de colos cortados.
mas se retirava as vestes
grácil detalhe mostrando,
era ramo de salgueiro
que me abria o seu botão
para ostentar a flor.

ALVES, Adalberto
Al-Mu'tamid - Poeta do Destino
Assírio & Alvim, Lisboa 1996


É possível visitar, neste mesmo blog, outros posts sobre al-Mu'tamid em:

Al-Mu'tamid, poeta luso-árabe do séc. XI
ou
Al-Mu'tamid (II)

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