
Silves, 14 de Agosto de 2003
Aproximar-me de Silves e sentir, a quilómetros de distância, a densa fumarada e o cheiro acre a queimado.
Avistá-la, à chegada, envolta em chamas, coberta de negro fumo.
Entrar na cidade e ouvir as buzinas dos bombeiros, as sirenes das ambulâncias, o espadeirar dos helicópteros, o estrondear de um avião em baixa altitude.
Escutar os relatos dos vizinhos, dos amigos, de que o fogo atingiu casas já na periferia da cidade e cerca povoados nas proximidades.
Saber que o fogo se deteve, a um ou dois metros de distância de casas de pessoas conhecidas.
Respirar com alguma dificuldade e sentir nos olhos o ardor do fumo.
Nada disto se compara ao desespero de ver consumir pelo fogo a sua própria casa, os seus haveres, aquilo por que tanto se lutou ao longo de uma vida inteira.
Nada disto se compara à angústia de ver, atingido pelo fogo, o camarada bombeiro que lutava a teu lado contra as chamas.
Nada disto se compara à demora e inoperância das soluções que não se sabe quando chegarão.
Nada disto se compara ao apressar da desertificação que se aproxima.
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