quinta-feira, maio 13, 2004

As ravinas podem cair


  • As ravinas podem cair com o peso da chuva: por entre as fendas, revelam-se grutas, caminhos para o centro que outrora se sonhou. Não importa que esses túneis estejam fechados; e que os grandes lagos subterrâneos guardem, intacta, a luz negra da origem. Ao ver a terra que escorre, devagar, ameaçando as casas em baixo, uma antiga inquietação me impede de avançar, em direcção ao fim da estrofe: como se, também aqui, o movimento das vogais iniciasse o brusco desmoronar do verso.


Nuno Júdice
Poesia Reunida (1967-2000)
D. Quixote, Lisboa, 2000


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