quarta-feira, maio 12, 2004

Eleições, de novo. Vêm aí os políticos!

Casimiro de Brito, no seu "diário" do ano 2000, Na Barca do Coração, Campo das Letras, Porto, 2001, na entrada que apresenta a data de 12 de Maio, escreve assim:


  • " Tempestades, todos os dias, nos copos de água suja que eles bebem. Que fazer? Como conviver, à distância que seja, com os políticos, quando só vão subindo aos galhos da pirâmide (neste tempo de relva e de areia) os mais medíocres? A violência ou o escárnio, diz Cossery, podem ajudar. Mas ajudam pouco. Também aí eles colhem comissões e dividendos: traficam-se armas e imagens como quem vai ao mercado comprar laranjas. Escravizam-se jovens tanto na produção como no consumo: roleta em que todos perdem, menos a banca, o múltiplo croupier. O desprezo talvez ajude, a indiferença dos peões, o desinteresse das plateias, a ironia dos intelectuais - mas isso que lhes importa? Numa sociedade democrática, os votos legitimam tudo, e eles dividem-nos maquiavelicamente. Ora governas tu e eu governo-me, ora governo eu e tu governas-te. E damos um pouco do que eles querem: pão (ma non tropo) e circo (o mais possível) - infalível! Terrível será o dia em que acordem a pensar que nada levarão consigo, nem o dinheiro, nem a maldade, nem as honrarias. Ficam imagens desvanecidas. Nem passam pelo "nada essencial" de que fala Heidegger. "



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