Casimiro de Brito, no seu "diário" do ano 2000, Na Barca do Coração, Campo das Letras, Porto, 2001, na entrada que apresenta a data de 12 de Maio, escreve assim:
" Tempestades, todos os dias, nos copos de água suja que eles bebem. Que fazer? Como conviver, à distância que seja, com os políticos, quando só vão subindo aos galhos da pirâmide (neste tempo de relva e de areia) os mais medíocres? A violência ou o escárnio, diz Cossery, podem ajudar. Mas ajudam pouco. Também aí eles colhem comissões e dividendos: traficam-se armas e imagens como quem vai ao mercado comprar laranjas. Escravizam-se jovens tanto na produção como no consumo: roleta em que todos perdem, menos a banca, o múltiplo croupier. O desprezo talvez ajude, a indiferença dos peões, o desinteresse das plateias, a ironia dos intelectuais - mas isso que lhes importa? Numa sociedade democrática, os votos legitimam tudo, e eles dividem-nos maquiavelicamente. Ora governas tu e eu governo-me, ora governo eu e tu governas-te. E damos um pouco do que eles querem: pão (ma non tropo) e circo (o mais possível) - infalível! Terrível será o dia em que acordem a pensar que nada levarão consigo, nem o dinheiro, nem a maldade, nem as honrarias. Ficam imagens desvanecidas. Nem passam pelo "nada essencial" de que fala Heidegger. "
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