Houve mulheres, no passado fim-de-semana, que se tornaram, até hoje, tema recorrente dos meus pensamentos: Salomé, no filme "O Milagre, segundo Salomé" e Julieta, Inês de Castro, Medeia e Antígona, na peça de teatro "Antes que a noite venha", a que assisti no Teatro Lethes, em Faro.
A elas, e às suas intérpretes que lhe deram corpo, este poema:
A vista
A quem é dado, pela janela entreaberta,
ver mais de metade da vida, e em voz alta por puro gosto
repetir o poema pensado,
já os deuses escolheram.
Mas se as folhas agitadas pelo vento ocultam,
por vezes,
o outro lado do muro, não é porque algo nos impede de olhar;
mas porque o olhar,
sob o impulso do vento,
segue as correntes contraditórias até algures,
na atmosfera,
onde imobilizado perscruta e espera.
Nuno Júdice
Poesia Reunida (1967 - 2000)
Publicações D. Quixote, Lisboa 2000
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