A MOSTRA que Silves não viu
Os silvenses terão hoje a última oportunidade para visitar a Mostra de Jovens Criadores, que mereceu a atenção elogiosa de grandes jornais nacionais, como o "Público", o "Expresso" e até o "Jornal de Letras".
Trata-se, de tal modo, de uma mostra diferente e inovadora, vanguardista, experimental e arrojada, ou não fosse uma MOSTRA juvenil, que me pergunto sobre o porquê da sua realização numa cidade do interior algarvio, onde a palavra cultura é identificada com "Festival da Cerveja" ou "Produções da Fábrica do Inglês" ou, talvez ainda, com o slogan eleitoral de "Silves, capital algarvia da cultura".
Há mais coisas, por certo, mas restringem-se à meia centena, um pouco mais ou um pouco menos, de pessoas atentas à oferta cultural de raiz local, afinal as mesmas que, além dos organizadores, jovens criadores, seus amigos e familiares, compareceram de forma regular, interessada e participada nos numerosos eventos que aqui tiveram lugar, particularmente os que decorreram até 12 de Junho.
Que contactos, laços, afinidades ou aprendizagens persistirão depois de terminada a MOSTRA?
Que preocupação houve em dar a conhecer, em fazer interessar, os agentes culturais locais?
Como se procedeu para animar e incentivar a participação dos jovens que aqui frequentam o 10º, 11º e 12º anos, nomeadamente os de cursos ligados à arte, ou os alunos do Instituto Piaget?
Esta MOSTRA passou ao lado da cidade.
Que venha de novo, que venha outra vez, que venha sempre, mas que venha para estruturar, para criar raízes, para gerar novos públicos, para que se transforme, realmente, num acto cultural de expressão local e não para impressionar quem, ao longe, através de jornais de expressão nacional, julgue tratar-se de descentralização cultural ou da realização da autarquia de uma pequena cidade de província, sem ligações à actual Secretaria de Estado da Juventude e Desportos que, curiosamente, também escolheu Silves como cidade anfitriã da exposição do "Euro '2004". Favorecimentos partidários?!
Aqui, a MOSTRA só ficou hospedada, não passou de turismo. Se era "só para o inglês ver", o "inglês" não viu.