Que significado terá ainda a Quaresma, neste Portugal que as estatísticas oficiais continuam a afirmar como católico, numa maioria próxima dos 90%?
Quantos, de entre estes 90%, conviverão com as privações do jejum e da abstinência, com o recolhimento interior e a oração, qual Ramadão neste lado do Mediterrâneo?
O "catolicismo" da grande maioria parece-me ser o da convenção social, pelos casamentos e funerais, e o da crendice pagã, próxima da bruxaria dos amuletos e do contrato de promessas, na esperança do milagre.
Creio que muito pouco da mentalidade preconceituosa e convencional se terá alterado desde o 25 de Abril.
Se, dantes, a palavra embatia contra a parede da censura oficial e o receio da polícia política, hoje ela choca contra os muros do alheamento e da ignorância, da censura social conservadora e provinciana, da hierarquia dos doutores, com um só olho, de quem se espera as soluções que nunca chegarão.
quarta-feira, março 01, 2006
Quarta-feira de Cinzas
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12 comentários:
Na "mouche", Toy!
Obrigado, Torquato.
Pela Quarta-feira de Cinzas, na nossa Alcantarilha, era dia do enterro do Entrudo. Recordo que os degraus da entrada para a tua casa serviam de púlpito ao orador, naquele sermão de despedida dos prazeres terrenos.
Um abraço.
Perspicaz e sobretudo mui lúcidamente constatado. Também temos os nossos fundamentalismos arreigados embora dissimulados (e que vão interessando a muito boa gente).
Obrigado, caro Dario, pelo teu comentário.
O que mais de perto me toca e me revolta é mesmo o desinteresse e a ignorância, que há quem chegue a assumir como atitude, como forma de estar, soltando o habitual:
-"Quero lá saber!"
Um abraço.
É de mim, ou estamos no mesmo comprimento de onda?
(Knight of Swords)
Um abraço,
RS
Talvez seja dos dois, esta vontade de investir contra moinhos de vento; mas que são gigantes, são.
Um abraço.
E obrigado pela citação, em tão exemplar situação. :-)
Emendo o link da citação anterior.
Fizeste uma analogia interessante entre Quaresma e Ramadão. São ambos períodos de recolhimento e transformação espiritual que terminam com Festas: Páscoa e Idul-Fitr. O Judaísmo também tem um periodo de jejum que antecede um periodo festivo (creio que é a Festa dos Tabernáculos) e a religião baha'i tem o mes do jejum (em que estamos agora) antes da festa de ano novo (21 de Março).
É curiosa esta estrutura comum: recolhimento e transformação e depois a festa.
São ciclos de vida, Marco, que as religiões confirmam.
Já esta nossa civilização, instigada pela publicidade, como forma de gerar consumo e lucro, vive nesta festa permanente, sem pausa para a reflexão, num clima de ilusão colectiva, a solicitar sempre mais e mais e de só se acorda em situações de choque.
Venho muitas vezes ler em silêncio. Só hoje cheguei aqui, mas não posso ficar calada : só para dizer que não podia estar mais de acordo com o que escreveu ! Maior e pior fundamentalista é aquele que não assume que o é, com o beneplácito da hipocrisia da sua religião.
Obrigado, Fernanda!
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