quinta-feira, agosto 28, 2003

Que se vos oferece dizer?

Transcrevo de Cristóvão de Moura:

EXPLORADOS E OPRIMIDOS

A frase do ano foi dita antes de ontem num dos telejornais por um senhor iraquiano a um senhor repórter televisivo:

"As pessoas aqui não têm nada, têm fome, estão sedentas de telemóveis, frigoríficos, parabólicas e ares condicionados".

quarta-feira, agosto 27, 2003

Contacto "interblogal"

Quero agradecer a Amostra de Arquitectura, que transcreveu o meu post de 21 de Agosto - Fruir a Cidade.
Fico muito honrado em figurar numa amostra de posts sobre questões relacionadas com a arquitectura, tanto por se tratar de um trabalho meritório, como por me ver seleccionado entre autores cujos textos me merecem respeito e admiração, entre os quais encontro os de blogs que figuram entre os meus links de referência, nomeadamente A aba de Heisenberg, Abrupto, Aviz, Cristóvão de Moura e Um pouco mais de Sul.
Agradeço também o link.

Um obrigado a Linha de Cabotagem pelo seu link para o meu blog, pela atenção que tem revelado pelos comentários que aqui vou deixando e pela beleza poética das suas imagens e dos seus textos.

O meu reconhecimento a O teste de Turing pela referência expressa ao meu link.

Pelos links para o Local e Blogal, o meu obrigado ainda a algarveglobal, BALDEPEIXE, Cinema para Indígenas.CpI, Notas Soltas, Ora esta... e vialgarve.

Finalmente e na sequência de um debate sobre o conflito israelo-palestiniano, onde figurei em Jaquinzinhos, projectado pel'A Sombra, deixo a minha expressão de alguma tristeza. Estes dois blogs que acabo de citar merecem a minha particular simpatia.
A Sombra, mais precisamente Rui Semblano (RS), pela sua atitude desassombrada :-), pela disponibilidade que revela em ser capaz de discutir para se esclarecer, menos talvez pelo calor com que expõe e se expõe.
Jaquinzinhos (JCD), pela ironia, pela destreza com que argumenta, pelas fotos, pelo que sinto que temos em comum de Algarve, de Sporting e já não tanto de liberalismo, mas de alguma liberalidade :-), menos também pela discussão, argumentativa mas pouco esclarecedora, mais de um debate que se contenta em argumentar pelo prazer do confronto e não da descoberta. Não os conheço, a não ser pela escrita, mas creio que JCD é mais novo que RS e qualquer um deles mais novo do que eu.
Receio que esta discussão venha a terminar pela subida de tom de alguns comentários (Espero bem que este "sermão" não venha a ser mais uma acha para a fogueira. Longe de mim tal intenção).
A vida nos blogs ficará empobrecida sem a vossa participação activa. Esclarecemo-nos melhor com o debate de ideias.
Não procedam como os responsáveis pelos dois lados do conflito. Obrigado, se me escutaram.

terça-feira, agosto 26, 2003

Longe dos cenários de confrontação e morte

Armação de Pêra, © Antonio Baeta Oliveira



As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só p'ra mim.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner
MAR, poesia
Editorial Caminho, Lisboa 2001


segunda-feira, agosto 25, 2003

Silves em Agosto

Silves, © Antonio Baeta Oliveira
 
Silves, da ponte medieval sobre o rio

Apesar de todo o bulício, de toda a agitação de Agosto (como se pode aperceber pelos automóveis sobre a ponte), em plena cidade, sobre o rio Arade, ainda é possível desfrutar desta quietude idílica.

sexta-feira, agosto 22, 2003

Diversidade de opinião

Silves, © Antonio Baeta Oliveira
 
Silves, sob o torreão da Almedina

Apesar da diversidade, a cada uma destas antenas chega a mesma interpretação da realidade; as ligeiras diferenças estão nos contornos.
Nos blogs não é assim; as interpretações da realidade divergem, mesmo quando os contornos se assemelham.
Entendo-me melhor nos blogs.

quinta-feira, agosto 21, 2003

Fruir a cidade

Embora os dias ainda se mantenham quentes, se bem que não com aquela intensidade que nos castigou durante semanas, os finais de tarde trazem-nos já uma brisa agradável que convida a passear.

Durante o passeio, junto ao rio, ocorreu-me um texto que havia escrito faz alguns anos e a que tinha dado o mesmo título que agora figura no topo deste post.
Escrevi-o para "O Grés", um projecto de jornal que acabou por sucumbir à míngua de leitores que garantissem a sua sobrevivência.

Dizia assim, a dado passo:
(...)
    - Passa! Passa! Estou aqui sozinho.
    - Chuta agora!
    - Golo!

Era a algazarra da miudagem na "nova baixa" da cidade, a nova zona das lojas, com calçada portuguesa e sem trânsito automóvel.
Apesar do cenário, com um ar mais condizente com os tempos modernos, os miúdos parecem ser sempre os mesmos e continuam a ameaçar as mesmas montras e a reagir da mesma forma aos que lhes apontam os perigos ou criticam a sua actividade.
Sinto-me naquela idade e viajo no tempo, recuando até ao quintalão do Vasconcelos, logo a seguir ao Correio, e aos meus jogos de futebol ou às experiências de cinema com uma lâmpada cheia de água e uma lanterna, projectando as "fitas", que comprávamos ao Domingos Baião na fábrica dos pirolitos.
Essas "fitas" eram bocados de sonho dos filmes que tínhamos visto no Teatro Mascarenhas Gregório, o "Cinema", ou na Esplanada do Jardim ou, ainda mais tarde, no barracão do Mariani.
(...)
E os arredores!?
A fonte férrea e a ribeira do Enxerim ou então a Ilha da Sra. do Rosário e o Moinho do Valentim, para a pesca do caranguejo e umas banhocas refrescantes.
Mas inesquecível é mesmo a Levada.
Aí o rio corria limpo desde a serra, sem influência marcante das marés, salobras. A água corria por montes e vales ainda sem fosfatos ou venenos para a mosca, o escaravelho, a borboleta, a formiga, ... A água era mesmo límpida ali, na Levada, junto ao Pego da Nogueira e as tardes de Verão eram longas e quentes, e convinha deixar secar as cuecas, não fosse a mãe descobrir onde passáramos a tarde.
Ainda hoje fruo a minha cidade.
Passeio por ela amiudadamente. Visito o rio praticamente todos os dias. Desfruto os seus largos, os seus recantos, os seus jardins, as suas ruas, os seus edifícios. Há coisas de que gosto, outras de que nem tanto, (mas que não são graves e até há outras pessoas que apreciam), mas abomino o desmazelo ou a falta de respeito.
As margens dos rios são domínio público e o seu acesso deve estar garantido. Não é verdade?
Como posso fazer para ir até à Levada ou ao Pego da Nogueira? Saltando muros ou cancelas? Enfrentando cães? Arriscando um desaguisado com o suposto proprietário?
Aqui está um assunto que deve ser corrigido sob pena dos ditos proprietários aparecerem para aí a reivindicar direitos, porque ninguém usa os caminhos, que já vedaram, há mais de não sei quantos anos.
    - Mas quando quiser pode pedir licença que não levanto problemas!

Terei que pedir licença para passar num caminho que me pertence por direito?
Será que voltaremos a passear junto ao rio, a montante da ponte nova? Quando será isso?(...)"


Depois da Ponte Nova, a montante do rio, continua a não ser possível ter acesso às suas margens. Nem os bombeiros.

quarta-feira, agosto 20, 2003

Interrogações que compartilho (II)

Curioso!
Esta semana, nos blogs, por duas vezes, encontrei interrogações que me coloco, que também partilho em conversas e que me apetece propor em resposta a desabafos e contrariedades que por aí vou ouvindo.
Possivelmente os seus autores não as terão escrito como eu as entendi, nem eu partilho por inteiro todas as suas afirmações, mas que correspondem a interrogações das que mais me preocupam, é verdade.
Assim escrevia eu, ontem, a propósito do que me suscitou esta segunda transcrição.

Em Cristóvão de Moura, Paulo Varela Gomes interroga-se sobre a degradação da democracia, ameaça que me preocupa profundamente:

"(... / ...) Sem mediação que não seja a dos media, o poder passou a ter de cortejar os media e os efeitos-de-media. É isso que provoca o drama da estupidificação da política e também o drama da descolagem do poder real em relação ao poder dos políticos, cada vez mais transformados numa espécie de bobos da multidão, ficando o poder real para os G8s, FMIs, Bancos Mundiais, etc, instâncias que não aparecem na televisão.
A universalização do sufrágio e a sua subsequente mediatização têm sido acompanhadas pela universalização dos espaços colectivos: desde logo a televisão, claro, mas também a escola, a rua, os espaços comerciais, os espaços culturais. E até a família se vai tornando uma instância universal, cujas relações internas e cujo modelo ideal são mediatizados pela televisão ou as revistas 'do coração'.
Bens raros e de qualidade como, por exemplo, o património, são desfrutados directamente por cada vez mais gente e isso tem significado uma alteração constante da qualidade desses bens, progressivamente transformados em verdadeiras mercadorias de super-mercado.
A escola massificada dos nossos dias, ao implicar um recrutamento massivo de professores e o processamento em série de instalações, transportes, etc., atravessa uma crise típica de uma escola desenhada para elites e ainda inadaptada às massas.
Os intelectuais em sentido lato - a classe média com consumos e preocupações culturais que é sempre minoritária mesmo em países muito avançados - consideram insuportáveis os aspectos mais visíveis desta universalização de direitos e acessos. Generaliza-se a tendência para detestar políticos, televisão, jornalistas, etc., e para exigir a governantes, professores e outros responsáveis pela gestão social aquilo que eles não podem dar: a re-criação de um mundo de elites (do gosto, desde logo, mas também do pensamento, da ciência, etc.). Trata-se de um claro sintoma de que os intelectuais estão a ser desprovidos do poder de intermediação que, enquanto políticos, escritores, artistas ou jornalistas, exerceram entre o final do século XVIII e o aparecimento da televisão de massas.
Na minha opinião, a 'causa' do problema - se 'causa' existe - é a decadência de todas as instâncias de mediação que transformavam o 'povo' em corpos sociais concretos como, por exemplo, os eleitores, o proletariado, a classe operária, os militantes ou simpatizantes de partidos políticos. Estes corpos sociais, além de organizarem e articularem a multidão tornando a vontade popular expressável pelas elites, diferenciavam a multidão, quebravam a homogeneidade que permite falar em multidão - enquanto que a televisão e os media indiferenciam, a escola de massas indiferencia, a cultura de massas indiferencia, ou seja, constituem (formatam) a multidão.
O desabamento das elites intelectuais e políticas, o desaparecimento destes corpos sociais (por exemplo, o fim dos partidos - que hoje não são mais que grupos profissionais de arrebanhadores de votos), deu lugar à presença 'em directo' da multidão na esfera política e nos espaços colectivos.
O povo-em-directo faz com que a democracia, tal como a conhecemos, esteja de facto ameaçada de morte por todo o género de demagogos populistas e pelo poder oculto de quem nunca aparece na televisão.
Como se enfrenta esta ameaça, não sei.(... / ...)"


Como se trata de uma transcrição, é sempre aconselhável que seja lida na íntegra, o que pode fazer através do link que se encontra no seu início.
Aconselho vivamente a sua leitura integral, pois trata-se de um texto mais vasto e bem polémico.

Na sequência do meu post de ontem, Rui Semblano, em A Sombra, transcreve a minha introdução, a que adiciona um texto complementar, muito sentido, explicitando a sua maneira de estar perante as afirmações que produziu. Menciona-me com atributos nos quais não me reconheço (particularmente o tratamento de arabista), mas que agradeço pela simpatia com que o faz.

terça-feira, agosto 19, 2003

Interrogações que compartilho

Curioso!
Esta semana, nos blogs, por duas vezes, encontrei interrogações que me coloco, que também partilho em conversas e que me apetece propor em resposta a desabafos e contrariedades que por aí vou ouvindo.
Possivelmente os seus autores não as terão escrito como eu as entendi, nem eu partilho por inteiro todas as suas afirmações, mas que correspondem a interrogações das que mais me preocupam, é verdade.

".. o dinheiro, a ganância, a sede do poder..." são frases que servem frequentemente para concluir sobre a fome, a miséria, a guerra, o desemprego..., para encontrar culpados e ainda para justificar algumas soluções radicais de alteração de regime, como se vivéssemos sozinhos no mundo, no nosso pequeno mundo das amizades e dos conhecimentos pessoais e tivésssemos a certeza sobre as nossa dúvidas.

Em A Sombra, post de 16 de Agosto, com o título "A expansão da loucura", destaco esta pergunta de Rui Semblano, que me ocorre tantas vezes:
"(... / ...) Alguém duvidará que os meios para erradicar a fome, a doença e a miséria no Terceiro Mundo já existem há décadas?
Esses meios não são aplicados porque nós, os afortunados que vivem no mundo desenvolvido, dito 'civilizado', dependemos da manutenção do Terceiro Mundo tal como é hoje para mantermos o nosso nível de vida. Aproximar (já nem digo igualar) estes dois mundos, equivaleria a prescindir de 90% dos nossos actuais benefícios - e estou a ser simpático, deixando-nos ainda 10% dos mesmos.
Alguém, no seu perfeito juízo, abdicará desses benefícios? (... / ...)"


Como se trata de uma transcrição, é sempre aconselhável que seja lida na íntegra, o que pode fazer através do link que se encontra no seu início.
Aconselho vivamente a sua leitura integral, pois trata-se de um texto mais vasto e bem polémico.

Deixarei para amanhã a segunda interrogação, pois a extensão do texto justifica que assim proceda.

segunda-feira, agosto 18, 2003

Ash-Shilbia

Antes que esta página de entrada se apresente sem um poema e, de certo modo, na sequência da calamidade que atingiu os arredores de Silves e que comentei no último post, trago-vos Ash-Shilbia (A Silvense).
Ash-Shilbia é uma mulher, uma mulher do mundo muçulmano.
Este poema, dirigido como protesto ao seu soberano, revela algo de particular nesta civilização do al-Ândalus no que se refere ao estatuto social da mulher no Islão.
Ash-Shilbia viveu na época almoada, sécs. XII-XIII, num período em que se interpõe, por dois anos (1189-1191), o poder cristão, por via da conquista de D. Sancho I e dos Cruzados. Após esta conquista cristã, Silves volta por quase mais seis décadas, ao seio daquela civilização do Gharb al-Ândalus.

De CHORAREM os palácios é chegada a hora
Pois as próprias pedras se lamentam.
Ó tu que vais onde a Clemência mora,
Esperando pôr fim às mágoas que atormentam,
Diz ao Príncipe quando chegares às suas portas:
Pastor! Olha as tuas ovelhas quase mortas
Que ficam sem prado para pastar;
Deixaste-as à mercê de muitas feras.
Um paraíso, minha Silves, eras.
Tiranos te lançaram ao fogo do inferno
O castigo de Alá parecendo desprezar:
Porém, nada é oculto para o Eterno.

ALVES, Adalberto
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa 1987


sexta-feira, agosto 15, 2003

Silves "sitiada"

Silves, © Antonio Baeta Oliveira

Silves, 14 de Agosto de 2003

Aproximar-me de Silves e sentir, a quilómetros de distância, a densa fumarada e o cheiro acre a queimado.
Avistá-la, à chegada, envolta em chamas, coberta de negro fumo.
Entrar na cidade e ouvir as buzinas dos bombeiros, as sirenes das ambulâncias, o espadeirar dos helicópteros, o estrondear de um avião em baixa altitude.
Escutar os relatos dos vizinhos, dos amigos, de que o fogo atingiu casas já na periferia da cidade e cerca povoados nas proximidades.
Saber que o fogo se deteve, a um ou dois metros de distância de casas de pessoas conhecidas.
Respirar com alguma dificuldade e sentir nos olhos o ardor do fumo.

Nada disto se compara ao desespero de ver consumir pelo fogo a sua própria casa, os seus haveres, aquilo por que tanto se lutou ao longo de uma vida inteira.
Nada disto se compara à angústia de ver, atingido pelo fogo, o camarada bombeiro que lutava a teu lado contra as chamas.
Nada disto se compara à demora e inoperância das soluções que não se sabe quando chegarão.
Nada disto se compara ao apressar da desertificação que se aproxima.

sexta-feira, agosto 08, 2003

Como uma almenara

Tavira, © Antonio Baeta Oliveira

Tavira, 6 de Agosto de 2003

Erguida como uma almenara vigilante, preservando memórias que permanecem em chapadas de cal contra o azul resplandecente do céu.

quinta-feira, agosto 07, 2003

O Palácio Almoada da Alcáçova de Silves

Como tinha que me deslocar a Faro e estava convencido de que ontem tinha tido lugar a inauguração da nova exposição do Museu Nacional de Arqueologia - "Tavira, Território e Poder" - prolonguei a viagem até Tavira.
Não sei se foi porque achei que a inauguração desta exposição, nesta época do ano, sobre Tavira, seria em Tavira, ou se foi a minha grande vontade de que assim fosse, o facto é que estava mesmo convencido, e por esse motivo já tinha comentado elogiosamente a atitude do Director do Museu, Dr. Luís Raposo, junto de um amigo meu.

Levei com a "porta na cara", mas uma funcionária do Palácio da Galeria garantiu-me que estava prevista a deslocação da exposição até Tavira.

Se este comentário vier a incentivar a sua curiosidade, deixe-me que lhe diga que, uma outra exposição relacionada com o Algarve está neste momento ainda em Lisboa. Trata-se de "Um Mergulho na História: arqueologia subaquática no rio Arade".

E foi por esta desilusão que escrevi este comentário? Não.
Foi porque fiquei cheio de mágoa ao saber da deslocação das exposições que atrás refiro a Tavira e a Portimão e não ter tido a oportunidade de ter visto em Silves, uma outra exposição sobre Silves, que permitiria ter "enchido os olhos" aos meus conterrâneos, como se encheram os meus olhos em Lisboa.
Teria ainda permitido dar a conhecer a alguns cépticos das escavações, o verdadeiro tesouro arqueológico que se esconde sob as paredes toscas de pedra, oculto aos olhos dos que não sabem ou não querem ver.




A figura é uma reprodução da reconstituição do Palácio Almoada da Alcáçova de Silves, a partir das escavações arqueológicas que ali tiveram lugar, conduzidas por Rosa e Mário Varela Gomes, cujo processo de interpretação e musealização está previsto no "POLIS de Silves".

Clicando na frase em sublinhado será remetido para uma página de Internet sobre o Palácio Almoada da Alcáçova de Silves, onde terá acesso a texto e imagens interpretativos das referidas escavações.
A página faz parte integrante de um site mais amplo, o Guia da Cidade de Silves.

Assim dou um pouco de satisfação à minha mágoa, trazendo um pouco dessa exposição junto destes meus novos leitores bloguistas.

quarta-feira, agosto 06, 2003

Morreu João Pulido Valente

Foi notícia em qualquer jornal nacional.

Não resisto em transcrever, se bem que tardiamente, o seu próprio epitáfio, a partir de ABRUPTO, em post das 09h15 do dia 5 de Agosto.

  • "Eu, João Pulido Valente, informo os meus Amigos que morri hoje, 4 de Agosto de 2003, de manhãzinha. Convivi com Ideias, mulheres, tabaco e álcool. Contraí cadeia, sífilis, cancro e ressacas. Não estou arrependido. Julgo ter pago o preço justo por ter vivido. Quando eu morrer não quero choro nem velas, quero uma fita amarela, gravada com o nome dela: Liberdade."


  • Promiscuidade

    Em Silves toda a gente sabe que a Presidente da Câmara e o Director da Fábrica do Inglês são irmãos. Aqui, à partida, não há promiscuidade, mas há má língua.

    Que a Câmara Municipal tenha uma atenção particular para com a Fábrica do Inglês (dentro dos enquadramentos legais), porque é a maior empresa promotora de turismo existente na cidade, é perfeitamente compreensível, mas pode gerar má língua.

    Que se confunda "a acção da autarquia com a actividade da Fábrica do Inglês", como já vimos publicado e aqui referenciado, pode ser ignorância, mas também pode ser promiscuidade.

    Quando se assiste à situação de ver o assessor da Sra. Presidente a apoiar os convidados da Fábrica do Inglês a sentar-se, quando não mesmo a Sra. Presidente a desempenhar tal tarefa, há promiscuidade. Essa promiscuidade é reafirmada quando uma Chefe de Divisão vai ao palco oferecer flores aos artistas.

    Estas "coisas" geram confusão, não geram?

    A isso chama-se PROMISCUIDADE.

    Felizmente, ou porque se ausentou, ou porque não quis gerar situações promíscuas, a Sra. Presidente não compareceu no palco quando, repetidamente, foi convocada para tal efeito. Se foi para evitar a promiscuidade, o meu aplauso.


    Embora o que acabamos de descrever tenha acontecido no dia 3 de Janeiro, na estreia de "In Love" e tal situação tenha aumentado a temperatura por estas bandas, as "canículas" de Agosto não o prediziam.

    As "canículas" de Agosto também não previram certamente os fogos que por aí vão. É que estas coisas não se predizem, mas previnem-se.

    Fico-me pelos incêndios, que se podem prevenir, remetendo-vos para alguns posts de ontem em Um pouco mais de Sul.

    terça-feira, agosto 05, 2003

    As "canículas" de Agosto

    As "canículas" de Agosto são uma intromissão nas canículas, em Agosto.

    Vou tentar esclarecer aquela ambígua e confusa afirmação.

    As "canículas" de Agosto são uma tradição popular, oral, creio que do Sul do país, que defende a ideia de que o clima dos primeiros dias do mês de Agosto prediz o clima dos meses do próximo ano.
    Segundo tal tradição, o 1º dia de Agosto não entra nesta contagem (o 1º dia tira o Agosto para ele, diz-se).
    O passado dia 2 de Agosto teria assim indicado como virá a ser o próximo mês de Janeiro. Curiosamente, enquanto o 1º de Agosto foi uma canícula (dia muito quente), já o dia 2 amanheceu com alguma nebulosidade e apresentou uma noite mais fresca, mais agradável. Teremos assim um Janeiro húmido e com algum frio.

    O dia 3 de Agosto aponta para um mês de Fevereiro bem mais húmido e fresco, com manhãs de nevoeiro.

    O dia 4, com menos humidade do que Fevereiro e mesmo do que Janeiro, será no entanto bastante ventoso (que o digam as minhas pernas, a pedalar contra o vento, no habitual passeio matinal.).

    O dia 5, que mal começou à hora a que envio este post, deverá apresentar-se como um dia de Primavera, um dia de Abril, se bem que a voz popular também afirme que "em Abril, águas mil".

    Assim seguirão as predições até ao dia 13 de Agosto, que equivale ao mês de Dezembro do próximo ano.

    Há locais em que a apreciação das "canículas" se faz através de doze punhados de sal, previamente dispostos nas beirais do telhado, onde as alterações provocadas pela humidade serão bem mais evidentes.

    Se a tradição popular das "canículas" se confirmar, assistiremos, conforme dizia no início do texto, a intromissões de tempo fresco nas canículas (tempo quente), em Agosto.

    Cumprir-se-á a tradição?!

    sábado, agosto 02, 2003

    Silves, à margem da cultura regional

    Questiono-me, sem encontrar razão que me satisfaça, perante a ausência de apoio do município silvense aos dois grandes projectos culturais, profissionais, do Algarve: a ORQUESTRA DO ALGARVE e a ACTA (A Companhia de Teatro do Algarve).
    A exigente estrutura profissional destas duas instituições deveria merecer a solidariedade institucional da região.

    Falta de dinheiro?
    Seremos assim tão mais pobres do que as outras Câmaras Municipais, nomeadamente as de municípios bem mais pequenos como os de Alcoutim, Castro Marim ou Vila do Bispo?

    Falta de local adequado?
    Como é que havia local para a Orquestra do Norte, que aqui efectuou vários concertos e não há para a Orquestra do Algarve, já no seu segundo ano de existência? Porque não se apoia a ACTA, que promove variadas intervenções junto das escolas e espectáculos de rua que percorrem todo o Algarve no Verão?

    Até tenho vergonha de aqui colocar outras questões que me ocorrem, mas que não seriam de bom tom. Além do mais também acho que não tenho de acrescentar mais argumentos face a tamanha falta de solidariedade regional por parte de uma Câmara que agita o slogan - "Silves, capital cultural do Algarve".

    sexta-feira, agosto 01, 2003

    Evocação de Silves

    Neste primeiro dia de Agosto, antes que os últimos poemas saiam pela linha do fundo.

    Painel de azulejos, © António Baeta Oliveira

    Fotografia de um painel de azulejos, em Silves.

    Saúda, por mim, Abû Bakr,
    os queridos lugares de Silves
    e diz-me se deles a saudade
    é tão grande quanto a minha.
    saúda o Palácio dos Balcões,
    da parte de quem nunca o esqueceu,
    morada de leões e de gazelas
    salas e sombras onde eu
    doce refúgio encontrava
    entre ancas opulentas
    e tão estreitas cinturas.
    moças níveas e morenas
    atravessavam-me a alma
    como brancas espadas
    como lanças escuras.
    ai quantas noites fiquei,
    lá no remanso do rio,
    preso nos jogos do amor
    com a da pulseira curva,
    igual aos meandros da água,
    enquanto o tempo passava...
    ela me servia vinho:
    o vinho do seu olhar,
    às vezes o do seu copo,
    e outras vezes o da boca.
    tangia-me o alaúde
    e eis que eu estremecia
    como se estivesse ouvindo
    tendões de colos cortados.
    mas se retirava as vestes
    grácil detalhe mostrando,
    era ramo de salgueiro
    que me abria o seu botão
    para ostentar a flor.

    ALVES, Adalberto
    Al-Mu'tamid - Poeta do Destino
    Assírio & Alvim, Lisboa 1996


    É possível visitar, neste mesmo blog, outros posts sobre al-Mu'tamid em:

    Al-Mu'tamid, poeta luso-árabe do séc. XI
    ou
    Al-Mu'tamid (II)