Dedico à Sara, que se atreveu a abandonar a sua rota de cabotagem e mergulhar na noite, desnoiteando:
De Ibn Sara, de Santarém (? - 1123)
ah, a noite que eu sem fim passei!...
o tempo alargava a sua duração
e dava-lhe o cerne do que na vida amei.
comentaram alguns, pela noite fora,
como se ia escoando a sua mansidão.
mas a noite apenas consentia a aurora...
das nuvens tão denso era o breu
que já não se sabia o que era terra ou céu.
ao longe o raio entre trevas se escondia:
era um negro que entre lágrimas sorria.
brandi alto o sabre da minha vontade
e tingi o manto dessa mesma aurora
ao ferir o colo da escuridade
com o sangue da noite pela noite fora.
Adalberto Alves
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa 1998
P.S. Ibn Sara já constava da minha galeria de poetas, na coluna da direita, em Ibn Sara, de Santarém, com A Brisa e a Chuva.
4 comentários:
O que te dizer, amigo? Agradecer-te o post e o poema de Ibn Sara. Sobre este último retiro a "sagesse" e a beleza das palavras/imagens. Escolher um verso? Impossível; todo ele é o espelho da profundidade da noite.
Um abraço
Desde há bastantes anos, quando descobri "O Meu Coração é Arabe" e mais tarde "Al-Mu'thamid" que admiro a poesia do Al-Andaluz, do território português ou não, poesia que os schoolars deveriam considerar como nossa antepassada e não apenas a dos Cancioneiros.
o problema é que esta poesia não é na nossa língua.
Não entendo qual é o problema que você vê nisso?!
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