sexta-feira, maio 21, 2004

Prémio Camões 2004

Pode parecer que o texto que escolhi para homenagear Agustina Bessa-Luís, e que retirei de Vale Abraão, Guimarães Editores, 3ª edição, Lisboa, 1996, tenha a ver com a minha predilecção por motivos andalusinos (vocábulo utilizado por Adalberto Alves, o de O meu coração é árabe, quando se refere à civilização do Al-Ândalus, período da presença islâmica na Península Ibérica).
Pensando melhor, até talvez seja verdade.
Ocorreu-me este romance porque o mais divulgado e conhecido, via cinema e Manoel de Oliveira, e porque à memória me acudia uma determinada descrição do Vale do Douro que me teria particularmente agradado. Face ao texto, ficou-me a dúvida sobre o que me teria efectivamente despertado a memória. Será que este apelo pela descrição do Vale do Douro não estaria associado às referências mouriscas e à figura de Almansor? Nunca o saberei.

  • " (...) há na curva que apascenta o rio pelo rechão areento, ao sair da Régua, um vale ribeiro de produção ainda de vinhos de cheiro e que se estende, rumo à cidade de Lamego, comarca a que pertence, até às águas medicinais de Cambres. É o Vale Abraão, com as suas quintas e lugares de sombra que parecem acentuar a memória de um trânsito mourisco que de Granada trazia as mercadorias do Oriente e, porventura, os gostos de pomares de espinho e dos vergéis de puro remanso. Almansor teve residência em Lamego e escreveu aí a história da campanha com os seus aliados, os condes moçárabes. Talvez por isso, porque corre um fio de tinta desde a fronteira duriana até às águas do Tedo e do Távora, os poetas e os letrados obstinados produzem as suas obras naquele território que, antes do trato da Índia, conheceu verdadeiro esplendor agrícola e comercial.
    (...) "



1 comentário:

Anónimo disse...

António

Qualquer que tenha sido o motivo obrigada por aqui ter colocado esta belíssima prosa de Agustina.

Um abraço