Pretendia, a propósito do Dia da Árvore e do Dia Mundial da Poesia, lembrar um poema em que Gastão Cruz se refere às mais características e quase já saudosas árvores do meu Algarve. Lá figuram o limoeiro, a alfarrobeira, a oliveira, a laranjeira, a figueira, a romãzeira...
Não o faço porque já o fiz, em Abril do ano passado, e aqui é possível recordar.
Acabei por nem sequer deixar um post neste dia 21 de Março, mas aí houve alguma responsabilidade do Sporting x Porto, ao forçar a sua publicação para além da meia-noite, já no dia 22.
Felizmente ainda é Primavera e o poeta assim se lhe refere:
- Os Limões Frios
De cada vez que vínhamos à casa
dos bisavós longinquamente mortos
que para ela tinham escolhido
um lugar na pureza
da terra absoluta
quando
principiava a primavera
e a avó saudava as andorinhas
como se no regresso
do ano anterior as mesmas fossem
e o sopro dos besouros me fazia
sentir que qualquer coisa novamente mudara
nos meus dias e o verão
subia e o calor da tarde intumescia
o sexo adolescente
e antes de regressar ao varejo da amêndoa
num silêncio de suor o jovem tio dormia
de cada vez nós víamos
da árvore desprenderem-se
os limões frios
Gastão Cruz
Rua de Portugal
Assírio & Alvim, Lisboa 2002
1 comentário:
Eu bem me queria parecer quando ontem li esta poesia (na colectânea Algarve todo o mar da Assirio & Alvim que já a tinha lido algures, assim como esta Despedida do Verão, mas não me lembrei que tinha sido aqui ;-)
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