Acontece que subscrevo a sua nota e a transcrevo para aqui.
"Aqui vai mais um comentário, este a propósito do que foi escrito sobre a referência à conquista de Silves feita pela Srª Presidente da Câmara na abertura da Agenda Municipal.
E eu também não. Não comemoro o 3 de Setembro se for a conquista de Silves aos mouros que estiver realmente a comemorar. Não comemoro o 814º aniversário da cidade porque nessa mesma data Silves deixou precisamente de ser uma cidade.
Foi brutalmente violada e saqueada pelas vitoriosas tropas cristãs que se portaram como uma horda de "bárbaros" da pior espécie. Um passado glorioso e notável, de que hoje nos orgulhamos e nos reclamamos herdeiros, foi por essa altura completamente arrasado por uma horda de violentos e oportunistas ignorantes a caminho da sua Terra Santa (ainda hoje a mesma), cegos pela cobiça e pelo fanatismo religioso mais primário. Nem os cristãos aqui residentes tiveram melhor destino, senão o de serem humilhados e acusados de traidores!
Não, não podemos hoje comemorar, pelo menos com esta visão, o dia 3 de Setembro. Isso iria renegar a nossa herança, seria renegar alguns dos nossos mais cultos e distintos antepassados, hoje frequentemente citados ou homenageados, seria, enfim, voltar à "idade média" e ao tempo negro das cruzadas. Seria reavivar, em terras portuguesas, questões que todos esperamos o Médio Oriente depressa venha a resolver, questões que infelizmente continuam ainda na ordem do dia e que o big brother Bush se encarregou de agudizar. E, ironia das ironias, voltando ainda ao bom exemplo criado pela situação referida pelo nosso bloguista-mor: como iríamos explicar isso aos nossos geminados irmãos mouros de Marraquexe??! Não haveria doutor em relações internacionais, nem historiador (já que os mouros sobreviventes ficaram cá, ao contrário dos cruzados) que pudesse dar a volta a esta estúpida e consolidada assunção: "os cristãos livraram a cidade dos mouros em 1189".
SOMOS TODOS MOUROS, porra!! Ainda não nos vimos aos espelho??.....
É por isso ridículo comemorar hoje o 3 de Setembro como o dia da conquista da cidade aos mouros. Que seja o 3 de Setembro, mas não o invoquemos assim. Façamos as pazes com o passado e que ele se torne o dia em que duas culturas se fundiram, o Dia do Encontro de Culturas, das culturas de que hoje somos fiéis depositários.
Questões insignificantes, meras palavras, pormenores, dirão alguns. Não são, direi eu, porque por detrás das palavras estão sempre as ideias, os valores, os preconceitos. E os que o 3 de Setembro me invocam pelas palavras da Presidente são hoje inadequados. Ponto final...
Uma saudação amiga à Alcagoita, outro blog algarvio que se nos link(ou).
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