sábado, julho 19, 2003

Fui, de novo, ao CAPa, e alguns comentários complementares

Fui, de novo, e vim mais novo, renovado.

No CAPa (Centro de Artes Performativas do Algarve), o mesmo local onde há alguns dias atrás tinha assistido a "és tu Zé? valsa lenta", tive a oportunidade de me confrontar, umas dezenas de anos mais tarde, com "As Moscas", de Jean Paul Sartre, numa encenação e adaptação dramatúrgica de Pedro Wilson.

Não se tratou de uma produção do CAPa, mas da utilização do seu espaço pelo SIN-CERA, Grupo de Teatro da Universidade do Algarve, que conta com Pedro Wilson como encenador, em muitos, a grande maioria dos trabalhos a que já tive a oportunidade de assistir.

Susana Nunes, que empresta o seu corpo de mulher, numa segura e corajosa interpretação da personagem de Orestes, a figura fulcral do tema da liberdade individual e da ideia de que a existência precede a essência, "Não existe uma natureza humana, é o próprio homem, numa escolha livre porém situada, quem determina a sua própria existência" (Jean Paul Sartre), que assume um nu integral a partir do momento em que o seu Orestes decide assassinar pai e mãe, num acto de liberdade exemplar, marca incontornavelmente tudo o que se possa dizer sobre esta encenação.

A utilização da projecção de diapositivos com figuras do passado e da actualidade, num óbvio piscar de olho a remeter-nos para a sociedade dos nossos dias, a cenografia de tons negros, com colunas clássicas, que se movem como planetas comandados por Zeus, algumas das soluções para agigantar e projectar a figura de Júpiter e o seu poder sobrenatural, se bem que nem sempre bem conseguidas, a coreografia das Erínias, as moscas, a cadeira do trono, simulando uma cadeira eléctrica, são apontamentos que quero registar e me agradaram bastante.

Os meus parabéns ao colectivo por este trabalho. Sinceramente, gostei.


Esta minha opção pelo CAPa e pelo SIN-CERA, em detrimento de "AMÁLIA", de La Féria, em Silves, fez-me perder o que, no dizer da Sra. Presidente da Câmara ao Região Sul, foi "...um marco histórico no Algarve." ... o princípio de uma "descentralização cultural".

Lili Caneças, que veio para um jantar na Fábrica do Inglês, assinalando a estreia em Silves deste musical, também declarou a "Região Sul" que "os autarcas algarvios têm feito um grande esforço para oferecer cultura ao povo" e "A famosa "tia" de Portugal "acredita na descentralização do poder e na importância do poder local para o desenvolvimento cultural dos concelhos"., deixando-me perplexo. Como pode esta senhora confundir a acção da autarquia com a actividade da Fábrica do Inglês, se bem que ambas se sediem em Silves, com declarações que contrariam uma outra de La Féria no mesmo jornal: "Filipe La Féria aproveitou para criticar o abandono a que grandes teatros e salas de espectáculo são votados pelo Estado português, como é o caso do teatro Letes, em Faro. Quanto a esta questão, Filipe La Féria foi peremptório ao afirmar que "o Estado mata os teatros" e sugeriu que estes espaços devem pertencer aos artistas ou a empresários e nunca ao Estado."?!.

Ah!


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