Ao abrir a capa deparei com o editorial da Senhora Presidente e, logo por baixo da sua fotografia, um destaque:
- "... A 3 de Setembro, festeja-se o 814º aniversário da conquista de Silves aos Mouros..."
Já me estou a rir, só de imaginar qual seria a reacção de uma qualquer personalidade de Marraquexe, das envolvidas na geminação das duas cidades - Silves e Marraquexe - ao ser confrontada com o convite da Presidente Isabel Soares:
- - Não quer ir a Silves assistir às festividades da nossa conquista da cidade aos Mouros?
Andaram convidados e vereação a caminho de Marrocos e os de lá a caminho de Silves, para os chamarmos agora de Mouros, com todas as conotações que o termo comporta, e continuarmos ainda a celebrar, não a aproximação de dois povos com um passado riquíssimo de um património que nos é comum, mas antes a data do derrube de uma civilização, passados mais de oito séculos, poucos mais do que aqueles que a civilização muçulmana permaneceu neste território que é hoje Portugal.
E que mouros são esses?
Al-Mu'tamid, nascido em Beja, que aqui viveu e a cujo nome a nossa cidade ficou indelevelmente ligada, a quem homenageamos com uma enorme praça pública em seu nome?
Ibn 'Ammar, poeta, nascido no termo de Silves e aqui seu governador?
Ibn Qasi, que esta mesma cidade viu nascer, poeta, filósofo, líder militar e religioso?
É certo que a 3 de Setembro de 1189, Sancho I tomou a cidade de Silves.
É aceitável que essa data seja feriado municipal e que haja festa.
Não concordo que se comemore a conquista, mas sim a memória de tantos silvenses que aqui viveram antes de nós e nos legaram este património tão rico, que é talvez, para Silves, a base em que assenta a sua melhor perspectiva de desenvolvimento.
Pois se a Câmara continua a insistir em comemorar o aniversário da conquista aos mouros, eu não o vou comemorar.
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