Vitorino Nemésio (1901-1978):
IMAGEM
Todas as tardes levo a minha sombra a beber
Como uma nuvem ao mar de que saiu o meu ser.
Não é mais doce a sombra do cavalo
Aberta pelo luar, e o dono a acompanhá-lo.
Levo essa sombra que destinge
Da minha alma e conserva uma mancha de mágoa;
Triste vestido que me cinge,
Deixou a cor no fundo da água.
Eu, cortado de mim como uma flor (e tenho
Vergonha de me sentir flor), as mãos embebo
Nessa água que leva a visão de onde venho,
E é para a não perder que, bebendo-a, me bebo.
5 comentários:
Belíssimo! e que saudades daquelas suas conversas na tv!
É denso, Nemésio, como o nevoeiro das ilhas.Por vezes, também cerrado. Mas gosto sempre de rever um conterrâneo.
Notei a ausência de Antero por aqui...
eu não diria melhor
:)
juro que não bebi água benta:)
Descobri esta hoje.
:)
09 Fev 2006 - quase um ano depois.
Enviar um comentário