quinta-feira, março 17, 2005

Todas as tardes levo a minha sombra a beber

Entardecer sobre o Arade, Fevereiro 2005, © Isabel

Vitorino Nemésio (1901-1978):

  • IMAGEM

    Todas as tardes levo a minha sombra a beber
    Como uma nuvem ao mar de que saiu o meu ser.
    Não é mais doce a sombra do cavalo
    Aberta pelo luar, e o dono a acompanhá-lo.

    Levo essa sombra que destinge
    Da minha alma e conserva uma mancha de mágoa;
    Triste vestido que me cinge,
    Deixou a cor no fundo da água.

    Eu, cortado de mim como uma flor (e tenho
    Vergonha de me sentir flor), as mãos embebo
    Nessa água que leva a visão de onde venho,
    E é para a não perder que, bebendo-a, me bebo.


5 comentários:

hfm disse...

Belíssimo! e que saudades daquelas suas conversas na tv!

Graça disse...

É denso, Nemésio, como o nevoeiro das ilhas.Por vezes, também cerrado. Mas gosto sempre de rever um conterrâneo.
Notei a ausência de Antero por aqui...

Anónimo disse...

eu não diria melhor
:)
juro que não bebi água benta:)

RS disse...

Descobri esta hoje.
:)

RS disse...

09 Fev 2006 - quase um ano depois.