quinta-feira, junho 23, 2005

Está aí o verão algarvio (III)

(Continuação)

Todos sabemos que os governantes nos podem enganar e que não nos enganam unicamente quando são apanhados na mentira.
Todos conhecemos Nixon e o caso Watergate, Bush e a intervenção militar no Iraque, cujos contornos se aprofundam ainda mais com recentes revelações no Times.
Entre nós, lembremos o último governo de Portugal e o abate de sobreiros em zona de reserva agrícola nacional, aprovada em Conselho de Ministros.

O que vou dizer não passa de mera especulação, é verdade, mas espero que venha a tempo de alertar os que aqui me lêem e através deles as associações ambientais para que se esclareça a situação, se eventualmente houver alguma coisa para esclarecer.

No último painel do Seminário que venho comentando foi apresentado o projecto Amendoeira Golf, a instalar no Morgado da Lameira.

O Morgado da Lameira, um dos mais férteis e ricos vales da nossa região, que a partir do 25 de Abril se tornou propriedade estatal por via da nacionalização da banca, passou à posse do grupo económico de Vasco Pereira Coutinho quando da sua privatização. Trata-se de um terreno de grande interesse agrícola e elevada sensibilidade ambiental, com a passagem de dois aquíferos, um deles o mais importante aquífero do Algarve - o Querença-Silves - do qual dependemos quase exclusivamente em tempo de seca, e a ainda o aquífero de Alcantarilha. É atravessado por duas ribeiras, a de Lagoa e a de Alcantarilha, e a sua riqueza e fertilidade provêm da circunstância de ser um leito de cheia, uma zona aluvial.
Em Março de 2003, por decisão do Conselho de Ministros, é aprovado para esta zona uma autorização de urbanização. Estranho, não?
Pois este terreno, assim liberto das limitações que a sua condição agrícola impunha, foi vendido a um grupo luso-irlandês, de capitais irlandeses e americanos, e prepara já planos de pormenor para a instalação de um campo de golfe, uma zona urbanizada e uma outra com vivendas de luxo, o Amendoeira Golf, num investimento de 150 milhões de contos para os próximos três anos.
Obviamente, o modelo teórico é inatacável. (Veja-se o post de ontem)

É muito, muito dinheiro e a gerar muito, muito mais!
Vendemo-nos ou não?!
Isto dá que pensar ou é só o meu espírito fundamentalista (foi assim que, durante este Seminário, ouvi algumas vezes apelidar os que manifestam opiniões contrárias, nomeadamente em defesa de questões ambientais e de património) a funcionar?

4 comentários:

JD disse...

O grande problema é que estas questões são colocadas debaixo de promessas de desenvolvimento sustentado e mais emprego para a região. E não vale mais a pena deitar abaixo a natureza e criar postos de trabalho do que deixar como está?
Só que... quais postos de trabalho? Umas dezenas de jovens a serem explorados e a deixarem a escola para ir ganhar sete contos e meio ao dia entre Março e Outubro? É isto que é desenvolvimento sustentado?

Nestas coisas sou "fundamentalista". Sou sim senhor. Se as coisas não são travadas por meios políticos, é colocar bombas nas obras, roubar material, cortar estradas, rebentar máquinas e carros, etc. Só assim as pessoas vão descobrir que, imagine-se!, há gente descontente e que tem a coragem de pensar diferente.

Anónimo disse...

Estranho porquê, Toy? Quem era em 2003 primeiro-ministro? José Manuel Durão Barroso, parente e grande amigo de Vasco Pereira Coutinho...Mais que pagas estão as férias na ilha privada do Brasil. A pergunta é: quantas Lameiras foram sacrificadas para chegar a presidente da comissão? E já lá plantado,fez fumo suficiente nas últimas férias que deu para ser visto em Estrasburgo!! Que se preparará neste Verão? Diz-me com quem fará férias, e eu dir-te-ei o futuro.

JD disse...

Bombas em carros.
Bombas.
Barricadas.

Anónimo disse...

olá amigo baeta, na minha opinião após os últimos anos de incêndios, porque não desbravar todo o país, e transformá-lo em greens... !Porque não? Com mentalidades como as do Vasco Pereira Coutinho e os demais, um país de greens seria prefeito... muitos postos de trabalho, muita riqueza muitos , muitos não sei mais o quê...
Para quê estarmo.nos a preocupar com aquiferos, com seca, com àgua? Já agora, uma perguntinha, por acaso perguntou a quem apresentou esse "maravilhoso" projecto se sabia o que era àgua?, E pior se sabia quantos países do mundo são usufrutuários desse precioso liquido e quantos vivem com necessidades do mesmo?... bem vou deixar o meu comentário por aqui.. porque este assunto tem pano para mangas e cada vez que o abordo fico com urticária.
beijo amigo
hélia coelho